domingo, 22 de julho de 2018

UM OLHAR ANTIGO  __ 738





Quando nossos olhares se cruzaram, me senti um livro sem a sua capa: o começo, meio e fim expostos, com todos os capítulos da história desvendados ao mesmo tempo ... fiquei vulnerável.

Longe de seu olhar ser inquiridor, teve acesso a todas as respostas.  Sem ser malicioso, pôde ver todo o meu corpo, como se eu nada vestisse ... tive vergonha da minha nudez.

O olhar profundo, significativo e intenso, não correspondeu aos poucos instantes decorridos, dentro do tempo em que nos olhamos, não daria tempo para isso.  Tive receio de que, uma vez dentro desse olhar, eu não conseguisse mais sair.  Debrucei-me sobre a sua borda, hesitante e ao mesmo tempo exultante.

Para  um primeiro olhar, parecia tudo muito antigo, de um conhecimento muito remoto, muito sabedor de onde era necessário garimpar e encontrar o que nunca fora encontrado.  Sabia exatamente, em que canto estivera guardado.  Tinha escancarado a passagem secreta, de um caminho já conhecido.  Onde antes existiram muros, havia agora uma estrada aberta e clara.

A ligação tão estreita que estabeleceu, me assustou.  Acostumada aos olhares superficiais e indiferentes, inquietou-me aquela proximidade de mim, que até então, só eu mesma tivera para comigo ... tive medo de estar tão perto.

Não foi um primeiro olhar.  Primeiros olhares, não causam essas sensações, não estabelecem tal intimidade.

Fora um olhar antigo. Me pareceu ser, o de duas almas, que se reencontram e se reconhecem de pronto.  Sem saber de onde vêm, de qual época ou local, mas estão certas de que a partir dali, podem seguir juntas.



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