sábado, 28 de julho de 2018

RE_EDIÇÃO __ Pó e silêncio __ 29/07/15






Fora sempre pessoa de língua muito eloquente.  Portadora de uma transparência quase indecente, capaz de fazer virar do avesso a alma e de não deixar senão uma folha de parreira a cobrir suas vergonhas.

Aos ouvidos moucos, a assertividade é um coçador que incomoda. Aos olhos fechados, desenhar é desnecessário e incompreensível.  Às feridas purulentas, as moscas são indesejáveis...

Confesso que, para minha eloquência, qualquer sentido que a tivesse captado seria lícito. Teria obtido êxito! Mas eu não atingi a massa cinzenta, que mora no sótão isolado e sombrio.  Entulhado, onde se assenta em seu trono, de onde não delega poderes e comanda a casa.

Tentei o tecido vermelho irrigado, de muitas portas, que ao se expandir, recolhe, reconforta e retém junto de si.  Esse cômodo quente, bem no meio da casa, muito próximo da cozinha, do quarto de dormir, de muita circulação e aconchego que deve possuir uma lareira sempre acesa.  Não tive exito.

Estamos eu e minha eloquência, ou ela e eu, cansados de bater à porta dessa casa sem jardim...  Nossas mãos estão doídas de tanto insistir sobre a madeira rústica e maciça, sem tinta nenhuma. Trancada por dentro... E  ninguém nos atende, não nos ouve!

Batemos há muito!  Lá dentro há apenas móveis cobertos de panos brancos cheios de pó e silêncio. 


Desistimos.  Eu desisto, é só silêncio!  Também, nem quero mais entrar! Perdi o interesse. Ninguém vive lá.  A casa é vazia!  





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