RE_EDIÇÃO __ Pó e silêncio __ 29/07/15
Fora sempre pessoa de língua
muito eloquente. Portadora de uma transparência quase indecente,
capaz de fazer virar do avesso a alma e de não deixar senão uma folha de
parreira a cobrir suas vergonhas.
Aos ouvidos moucos, a assertividade é um coçador
que incomoda. Aos olhos fechados, desenhar é desnecessário e
incompreensível. Às feridas purulentas, as moscas são indesejáveis...
Confesso que, para minha eloquência, qualquer
sentido que a tivesse captado seria lícito. Teria obtido êxito! Mas eu não
atingi a massa cinzenta, que mora no sótão isolado e sombrio. Entulhado,
onde se assenta em seu trono, de onde não delega poderes e comanda a casa.
Tentei o tecido vermelho irrigado, de muitas
portas, que ao se expandir, recolhe, reconforta e retém junto de
si. Esse cômodo quente, bem no meio da casa, muito próximo da
cozinha, do quarto de dormir, de muita circulação e aconchego que deve possuir
uma lareira sempre acesa. Não tive exito.
Estamos eu e minha eloquência, ou ela e eu,
cansados de bater à porta dessa casa sem jardim... Nossas mãos estão
doídas de tanto insistir sobre a madeira rústica e maciça, sem tinta
nenhuma. Trancada por dentro... E ninguém nos atende, não nos ouve!
Batemos há muito! Lá dentro há apenas móveis
cobertos de panos brancos cheios de pó e silêncio.
Desistimos. Eu desisto, é só silêncio!
Também, nem quero mais entrar! Perdi o interesse. Ninguém vive lá. A casa
é vazia!
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