terça-feira, 24 de julho de 2018

CAIXA DE VIDRO  __ 739





Atrás do vidro, separador e frio, tu observas:
o inseto insignificante, queimar sob o sol da justiça,
ou o verme repugnante, secar sob o sal da dor,
ou o ser menor do que tu, definhar sob o força da indiferença.

Desprovido de misericórdia, és um excelente candidato a carrasco.  

Tudo que incomoda, ou não te serve, no sentido mesmo da servidão - deve morrer, e se não podes matar de fato, arranjas uma forma de o fazerdes.

Protegido pela camada de vidro, manténs frieza legítima e validada, até perdoada.   Permaneces incólume e impassível, sem mexeres um músculo da face, sem nenhum piscar de olhos, sem alterares teus batimentos cardíacos, com teu invariável e perpétuo discurso, usando sempre as mesmas palavras - apenas observas.

Esqueces de que não te separas do inseto, do verme, ou do ser menor.  Dentro da tua caixa de vidro - tu és - distante e apartado como queres parecer, mas não és um ser a parte da criação, nem acima como julgas, nem em qualquer outro patamar, estás ao lado de todos os outros, na mesma estrada tortuosa e ascendente.


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