POR QUÊ DALAI LAMA DISSE PARA NÃO FICARMOS SIMPLESMENTE ORANDO PARA AS VÍTIMAS DO ATENTATO EM PARIS ?
Em entrevista ao jornal alemão Deutsche Welle, Dalai Lamasurpreendeu a todos que imaginavam que ele diria para orarmos para as vítimas do atentado de Paris.
Mas não foi isso que fez, o líder budista tocou diretamente noponto, sem passar a mão na cabeça.
Veja o Trecho da Entrevista!
“Nós não podemos resolver este problema apenas através de orações”, disse o líder espiritual. “Eu sou um budista e eu acredito na oração. Mas os seres humanos criaram este problema, e agora estamos pedindo a Deus para resolvê-lo. É ilógico. Deus diria, resolva-o sozinho, porque você o criou, em primeiro lugar. “
“Precisamos de uma abordagem sistemática para fomentar valores humanistas, de unidade e harmonia. Se começarmos a fazer isso agora, há esperança de que este século seja diferente da anterior. É do interesse de todos. Por isso, vamos trabalhar para a paz dentro das nossas famílias e da sociedade, e não esperar a ajuda de Deus, Buda ou dos governos.“
“Além disso, os problemas que estamos enfrentando hoje são o resultado de diferenças superficiais sobre crenças religiosas e nacionalidades. Nossos problemas irão aumentar se nós não colocamos o princípios morais acima do dinheiro. A moralidade é importante para todos, incluindo as pessoas religiosas e políticos.
“Somos um só Povo!”
Postamos esta semana, justamente um texto de Krishnamurti sobre os motivos das guerras que vai ao encontro desta entrevista do Dalai Lama. Vale a pena conferir, o texto é um grande expansor da consciência.
QUAL A CAUSA DA GUERRA – SEJA RELIGIOSA, POLÍTICA OU ECONÔMICA?
A guerra é uma manifestação exterior do nosso estado interior, uma ampliação das nossas ações. Ela é a mais espetacular, mais sanguinolenta, mais devastadora, mas é o resultado coletivo das nossas ações individuais.
Você e eu somos responsáveis pela guerra. É óbvio que ela não pode ser sustada por você nem por mim, porque já está acontecendo; há interesses consideráveis, e todos já estão empenhados em defendê-los.
Mas você e eu, vendo a casa arder, podemos entender a causa do incêndio, nos afastar e construir outra casa, com materiais diferentes, não-inflamáveis. Isso é tudo o que podemos fazer: ver o que determina a guerra e, se estivermos interessados em acabar com ela, começar a transformação em nós mesmos.
Há alguns anos fui procurado por uma senhora americana. Ela contou que perdeu um filho na Itália e desejava salvar o outro filho, de dezesseis anos. Sugeri que, para salvar o filho, ela deixasse de ser americana: deixasse de ser ambiciosa, de acumular riqueza, de desejar poder. Que se tornasse moralmente simples, não só em relação a roupas, a coisas exteriores, mas simples nos pensamentos e sentimentos, simples nas relações. Ela respondeu: “O senhor está pedindo o impossível. Isso eu não posso fazer. As circunstâncias são muito poderosas, eu não posso alterá-las.”
As circunstâncias podem ser controladas, porque nós criamos as circunstâncias. A sociedade é produto das relações, suas e minhas, conjuntamente.
Se mudarmos as relações, a sociedade mudará.
Se contarmos só com a legislação para transformar a sociedade (enquanto no íntimo continuamos corruptos, ambicionando poder, posição, autoridade), causaremos destruição no mundo exterior, por mais caprichosa e cientificamente que ele tenha sido construído. O interior sempre supera o exterior.
O que causa a guerra – seja religiosa, política ou econômica?
Sem dúvida, é a crença;
A crença no nacionalismo, numa ideologia, num dogma. Se, em vez de crença, houvesse boa vontade, amor e consideração, não haveria guerra. Mas nós nos alimentamos de crenças e dogmas; nós fomentamos o descontentamento.
É claro que a causa da guerra é o desejo de poder, prestígio, dinheiro. É também a doença chamada nacionalismo (o culto de uma bandeira) e a doença da religião organizada (o culto de um dogma). Tudo isso produz uma sociedade fadada à destruição. Portanto, tudo depende de você, não dos estadistas. Tudo depende de você e de mim, mas parece que não percebemos isso.
Se chegássemos a nos sentir verdadeiramente responsáveis por nossas ações, com que rapidez acabaríamos com todas as guerras! Mas somos indiferentes.
Fazemos três refeições por dia, temos nossos empregos, nossos depósitos no banco, e dizemos: “Pelo amor de Deus, não venha me perturbar, deixe-me em paz!” Quanto mais alto estamos, mais queremos segurança e tranqüilidade, mais queremos que as coisas fiquem como estão.
Mas as coisas não podem ser mantidas como estão, porque não há nada para manter. Tudo está se desintegrando. E não queremos encarar isso.
Para termos paz, temos que ser pacíficos
Nós podemos falar sobre paz, fazer conferências, sentar para discutir; interiormente, porém, somos impulsionados pela ambição. Fazemos intrigas, somos nacionalistas, escravos de dogmas pelos quais estamos dispostos a nos destruir uns aos outros.
Como esses homens – você e eu – podem ter paz? Para termos paz, temos que ser pacíficos. Viver pacificamente significa não criar antagonismo. A paz não é um ideal. Um ideal é simplesmente uma fuga, uma maneira de evitar aquilo que é.
Para ter paz devemos amar, devemos começar a viver. Não uma vida ideal, mas viver as coisas como são, agindo sobre elas, transformando-as. Enquanto cada um procurar segurança psicológica, a segurança física de que necessitamos (alimento, roupa, moradia) será destruída.
Para pôr fim a todas as guerras é necessária uma revolução no indivíduo, em você e em mim. Sem essa revolução interior, a revolução econômica não terá significação, porque a fome é resultado de um desajuste de condições econômicas produzido por estados psicológicos: inveja, ambição, ganância.
Revolução Psicológica
Para acabar com o sofrimento, a fome e a guerra é necessária uma revolução psicológica, mas poucos têm disposição para isso. Estamos dispostos a conversar sobre paz, planejar leis, criar entidades, mas não estamos realmente dispostos a obter a paz, porque não queremos renunciar ao poder, às propriedades, às nossas vidas estúpidas.
Contar com os outros é inútil. Nenhum líder trará paz, nenhum governo, nenhum exército. O que trará a paz é uma transformação interior, que levará à ação exterior. E transformação interior não significa isolamento, retraimento da ação. Pelo contrário; só pode haver ação correta quando há um pensar correto, quando há autoconhecimento. Sem autoconhecimento não há paz.
Para acabar com a guerra exterior, temos que acabar com a guerra dentro de nós.
Alguns de vocês vão balançar a cabeça e dizer: “É isso mesmo” – e depois vão sair para fazer exatamente a mesma coisa que vêm fazendo há dez ou vinte anos.
Seu assentimento é apenas verbal, sem sentido; as misérias do mundo não acabam por causa de um assentimento ocasional. Elas só vão acabar se você compreender a sua responsabilidade, se não deixar a tarefa para outra pessoa. Se você reconhecer a necessidade de uma ação imediata, então terá que se transformar. A paz só virá quando você for pacífico.
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