Permitir o enfraquecimento do ego
Recomendo que faça esta experiência de tempos a tempos. Por exemplo, quando alguém o criticar, o acusar ou o ofender, em vez de retaliar imediatamente ou de se defender - não faça nada. Deixe a sua auto-imagem permanecer diminuída e fique alerta ao que sente lá no fundo quando procede desta forma. Durante alguns segundos, é capaz de se sentir desconfortável, como se tivesse encolhido de tamanho. Depois, é provável que sinta uma grandeza interior que parece intensamente viva. Você não foi de todo diminuído. Na realidade, ficou maior. Pode então chegar a uma conclusão espantosa: quando você é, de alguma forma, aparentemente diminuído e permanece numa não-reação absoluta, ao tornar-se «menos» acaba por se transformar em «mais».
Quando deixa de defender ou tentar reforçar a forma de si próprio, você dá um passo para fora da identificação com a forma, através da sua auto-imagem mental. Ao tornar-se menos (segundo a perceção do ego), você passa de facto por uma expansão e dá espaço ao Ser para este tomar a dianteira. O verdadeiro poder, quem você é para além da forma, pode então brilhar através da forma aparentemente enfraquecida. É isto que Jesus quer dizer nas afirmações que se seguem: «Nega-te a ti próprio», ou «Dá a outra face».
Eckhart Tolle (Um Novo Mundo, pág. 177)
Queixumes e ressentimentos
O ego adora queixar-se e sentir-se magoado não apenas pelas outras pessoas, mas também pelas situações. O que aplicamos a uma pessoa também podemos aplicar a uma situação: transformá-la num inimigo. A implicação é sempre a seguinte: isto não devia estar a acontecer; não quero estar aqui; não quero estar a fazer isto; estou a ser tratado injustamente. E é claro que o maior inimigo do ego é o momento presente, isto é, a própria vida.
O queixume não deve ser confundido com comunicar a alguém um erro ou uma deficiência para que este possa ser reparado. E não nos queixamos não significa necessariamente que temos de tolerar a má qualidade ou um mau comportamento. O ego não está presente quando dizemos ao empregado que a nossa sopa está fria e precisa de ser aquecida - se nos limitarmos aos factos, que são sempre neutros. «Como se atreve a servi-me a sopa fria...». Isto é um queixume. Existe aqui um «eu» que adora sentir-se pessoalmente ofendido pelo facto de a sopa estar fria e que vai aproveitar-se disso ao máximo, um «eu» que gosta de fazer dos outros os maus da fita. O queixume a que nos estamos a referir está ao serviço do ego, não da mudança. Por vezes, torna-se óbvio que o ego realmente não quer mudar para poder continuar a queixar-se.
Eckhart Tolle (Um Novo Mundo, pág. 57)
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