terça-feira, 17 de maio de 2022

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BURACO DE BORBOLETA





Quando contemplo a paisagem à minha frente, e entro no 'modo visão desfocada', já não é mais um vazio que vejo.  Torna-se aos poucos, uma estrada larga e iluminada, ganhando contornos cada vez mais nítidos, que me leva a lugares repletos de tudo ... onde o que não pude tocar, ainda está lá; onde o que não pude saber, ainda está a minha espera, para ser apreciado.  Posso me deter numa cena prazerosa, porque dentro dele não existe a noção de tempo, nem de espaço, muito menos há coisas definidas, porém tudo é possível, lá existem todos os gérmens de todas as ideias.

Na entrada, existe um arco translúcido, que coroa essa passagem, fazendo parecer ... e eu arrisco dizer ... um ‘buraco de borboleta’.   É assim que eu me sinto – uma borboleta – não escuto o barulho de asas, apenas sinto a leveza do meu corpo, que desliza, como se pairasse sobre flores, delicadamente.  É enganoso imaginar, que um vazio seja desprovido de qualquer coisa, porque um vazio pode ser repleto de tudo - o meu, pelo menos, é.

Eu já não sei, se fui eu que adentrei seus limites, como se debaixo dos meus pés, fosse colocada uma esteira rolante ou se foi o arco que avançou através de mim e me levou ao seu interior.  O que eu sei é, que não fiz nenhum movimento com meus pés, e ainda assim, alcanço todos os seus recantos e todas as sensações, que me podem proporcionar.



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