segunda-feira, 30 de maio de 2022

 1503



PONTO E CURVA

Apesar do que se diz, sobre estarmos ou não dentro da curva, somos muito mais do que, apenas um ponto.  Seríamos um aglutinado de pontos sobrepostos, com que tentam nos descrever e nos situar, no gráfico cartesiano?  Somos feitos de curvas e outros segmentos, não tão arredondados, alguns emaranhados, que fazem parte da nossa trajetória e que nos desenham, com aparente imperfeição. 

O que somos foge a toda essa classificação simplista, porque ignora os aspectos mais complexos da equação.  Podemos ser sim, uma equação, mas com expoentes nas suas variáveis, de valores subjetivos.   Usando das mesmas palavras, eu arrisco em dizer – que somos uma curva, fora do ponto, em que tentam nos colocar.


domingo, 29 de maio de 2022

1502



E ASSIM, É ASSIM

A vida entra com o limão, o espremedor e a força ... e assim, ela retira-nos o sumo, para depois, o adoçarmos ou não.   É assim ... o que vai acontecendo na nossa vida, vai ficando impregnado em nós e se incorporando ao que somos.  Vamos transformando, uma dor em poesia, em canção; uma cena em belo vestido; porque essa é a nossa parte ... deixar em negrito o que importa ...  conservar em letras de tom mais fraco, aquilo que contribuiu, mas não merece destaque na nossa história.  E assim, ao olharmos para trás, será mais fácil visualizar o que está em letras destacadas.

arte __ catrin welz-stein



Imagem que me fez pensar sobre este texto:




sexta-feira, 27 de maio de 2022

1501




TIERRA Y MAR 

En tierra, observé cómo el barco desaparecía en la niebla, como si nunca hubiera estado cerca de la costa. Era dudoso, si es que algún día lo fue, tal la totalidad de la desaparición, sin dejar rastro en el mar, ni vestigio, de una de sus diminutas partículas desintegradas en el aire, para contar la historia. Desapareció, bajo la capa de invisibilidad. Sólo mis retinas conservarán sus contornos definidos, balanceándose sobre las olas, tan real como palpable, porque sé lo que vi.

terça-feira, 24 de maio de 2022


1500

TÃO LOGO


O que fazer com o que teima em extravasar?  Algo que não podemos, nem sequer mencionar, embora os olhos estejam secos, o coração se conserva molhado.  Quando fazemos uma carreira solo, num caminho para dois ou numa música composta para ser entoada e apreciada em dueto e que conta apenas, com uma voz abafada e rouca? 

Ele vaza, ele chora, ele prossegue, ele murmura algumas notas, ele existe, insiste, resiste.  Talvez, se eu o engolisse ou matasse?  ...  Engolir? ... Já fiz isso e ele reapareceu na garganta, no estômago, em qualquer outro lugar! ... E se eu o matasse?  ... Logo, seria preciso matar a mim mesmo.



domingo, 22 de maio de 2022

 

1499

ENQUANTO HOUVER PERNAS


Devemos dançar, enquanto há pernas que acompanhem a melodia, porque haverá música para dançar, mas pernas e vontade, nem sempre.  Devemos comer, enquanto há dentes capazes de mastigar e prazer de saborear.  Porque o tempo é escasso, ele passa impiedoso e não liga, se escolhemos ‘não dançar’ ou ‘não comer’; para ele - oportunidade passada é oportunidade perdida.

É preciso viver, enquanto há desejo de se arrumar para sair, de encontrar pessoas e conhecer lugares diferentes, porque talvez, essa vida não esteja tão plena e tão a nosso favor, de gozarmos a dádiva do movimento prazeroso, quando quisermos.  A alegria de reencontrar amigos, é uma coisa primordial, porque o tempo também passa para eles e um dia, a alegria em revê-los poderá ser impossível, pois eles ou nós, quem sabe, não estejamos mais aqui.  Uma dificuldade ou outra, pode nos tornar mais reclusos, e como já disse, a inclemência dos tempos é tão certa, quanto mais avançam os anos e as escolhas, por deixarmos para mais tarde.  Não se pode voltar no tempo e aproveitarmos as oportunidades perdidas, o que se perdeu – perdido estará.

sábado, 21 de maio de 2022

 


1498

MENSAJES SECRETOS

A las preguntas que le hice, la luna me enfrentó con su enigmática mirada, dejándome claro que no habría respuesta, como esperaba. Ella, emitía unas señales luminosas, intermitentes, en distintas frecuencias, algo así como, cierto código, que no conozco y no podré descifrar. Por pura intuición, presentí que tal vez me estaba diciendo: “¡no me hagas preguntas, de las que ya sabes las respuestas!”.  Y ya lo sabia!


quarta-feira, 18 de maio de 2022

 


1497

MAIS CONHECIMENTO, MENOS PARAÍSO


Quanto mais sei, mais responsabilidade eu tenho, na hora de agir - maior é o peso das minhas ações, sejam boas ou não, eu respondo inclusive pela omissão.   Dizem que “o acaso vai nos proteger” ... Não mesmo!   Acredito em ocasiões fortuitas, que nos pegam desprevenidos.  Quando analisamos os fatos, de traz para frente, percebemos que tudo fez sentido, o inesperado se encaixa na linha dos fatos e que acasos não existem.  A ignorância, serve de atenuante, que pode diminuir a nossa culpa ou agravá-la; porém não nos protege quanto à responsabilidade, que é sempre nossa, porque as ‘distrações’ podem nos custar muito caro.  

‘A cruz e a caldeirinha’ são dois limites, dentro dos quais transitamos.  ‘Pecar’ por ignorância ou ser expulso do paraíso?  Uma vez ‘expulso’, por saber um pouco mais; não há como alegar desconhecimento.  Uma vez, tendo bebido da fonte, é impossível esquecer o sabor da água e a sensação de saciedade que ela nos dá.

Pecar, por não agir de acordo com a informação que temos – por escolha nossa ... ou pecar por ignorância – sem saber que se peca?   Estaremos sempre pecando ... não no sentido de transgredir princípios religiosos, mas sim, de cometer faltas, sejam conscientes ou não; porque ainda é, dessa maneira que aprendemos.

Titãs - Epitáfio

terça-feira, 17 de maio de 2022

1496

BURACO DE BORBOLETA





Quando contemplo a paisagem à minha frente, e entro no 'modo visão desfocada', já não é mais um vazio que vejo.  Torna-se aos poucos, uma estrada larga e iluminada, ganhando contornos cada vez mais nítidos, que me leva a lugares repletos de tudo ... onde o que não pude tocar, ainda está lá; onde o que não pude saber, ainda está a minha espera, para ser apreciado.  Posso me deter numa cena prazerosa, porque dentro dele não existe a noção de tempo, nem de espaço, muito menos há coisas definidas, porém tudo é possível, lá existem todos os gérmens de todas as ideias.

Na entrada, existe um arco translúcido, que coroa essa passagem, fazendo parecer ... e eu arrisco dizer ... um ‘buraco de borboleta’.   É assim que eu me sinto – uma borboleta – não escuto o barulho de asas, apenas sinto a leveza do meu corpo, que desliza, como se pairasse sobre flores, delicadamente.  É enganoso imaginar, que um vazio seja desprovido de qualquer coisa, porque um vazio pode ser repleto de tudo - o meu, pelo menos, é.

Eu já não sei, se fui eu que adentrei seus limites, como se debaixo dos meus pés, fosse colocada uma esteira rolante ou se foi o arco que avançou através de mim e me levou ao seu interior.  O que eu sei é, que não fiz nenhum movimento com meus pés, e ainda assim, alcanço todos os seus recantos e todas as sensações, que me podem proporcionar.



segunda-feira, 16 de maio de 2022

1495 

GERME DE EVOLUÇÃO 




O que serei amanhã, está em gestação, no hoje.  O que sou hoje, já esteve em fase embrionária, no ontem.   Carrego em mim, o germe de minha própria evolução.  Transito por uma espiral ascendente, sou hoje, um ser mais complexo do que ontem, sem deixar de ser eu mesmo, porém de idêntica importância, em todos os tempos.  Vai em mim, o mérito do meu movimento, em direção ao autoconhecimento e minha consequente subida.

Essa força que me impulsiona para a frente e acima, mora em mim, como um 'atributo de fábrica', porque deter-me jamais ... mesmo que a duras penas, dando a cara aos tapas ou ralando ... porque se existe algo que ninguém pode tomar de mim, é a minha experiência, obtida através de erros, consertos e finalmente, acertos.

Existem bolhas, caixas, degraus, pontos na curva, onde cada um se encontra, neste momento, mas isso é passageiro, porque a força propulsora para a evolução, é atributo de toda criação.  Em algum momento, seremos convidados a abandonar nosso posto, acaso nos detivermos nele, por tempo demasiado. 

Embora para o ser humano, isso de dê de forma mais consciente, todos os reinos foram agraciados com ela - a força.  O mineral se transforma em petróleo, o vegetal se aprimora para poder se adaptar, o animal adquire traços mais sutis na forma e no comportamento e o planeta todo ruma em direção à evolução.


domingo, 15 de maio de 2022

 1494

UM NÃO SEI QUÊ




Trazia no olhar 'um não sei quê' ... de saudade?  de onde?  e por quê?

Uma tristeza puxava para baixo, um canto da boca que sorria ...

fazendo parecer, que ria um sorriso mentiroso e plástico ...

E era, porque era só uma parte sorriso, resto melancolia.

O olhar estava aqui, a visão em outro tempo e lugar.

A boca estava presente ... a palavra? ... distante!

O dedo escrevia no vapor do espelho, um nome ...

Logo depois, desaparecia!


sábado, 14 de maio de 2022

 1493

DOS PAREDES




La vida me aprieta, como esperando sacar algún dulce jugo de mi bagazo.

Apuesto a que está sorprendida, incluso decepcionada, porque el líquido que fluye es más ácido o  amargo o salado.

Me siento dentro de un exprimidor gigante, pero no de los que conocemos; a veces parecen dos paredes paralelas, que poco a poco van disminuyendo la distancia que las separa, sin tener en cuenta que yo estoy entre ellas.

 1492

DE VERDADES E MENTIRAS



É assim que construímos nosso edifício, empilhando-as, umas sobre as outras, de forma cuidadosa, como se constroem as casas de tijolos.   As verdades são verdades? ... algumas!  Outras 'verdades', são mentiras que contamos para nós mesmos e de tanto recontarmos, assumem a aparência de verdades.  Tenhamos consciência disso ou não, mentiras, sempre serão mentiras, com suas faces espelhadas, voltadas para o lado de fora.

Essa pequena distorção de nossa visão, dará origem a um edifício com algumas peças, de impossível liga com as demais, mesmo se usarmos a melhor argamassa.   Ocasionalmente, aparecerão rachaduras, que em vão, procuraremos fora, pelas razões ou motivos ... e que na verdade, estarão dentro de nossa própria estrutura.

Será preciso executarmos um trabalho minucioso, para identificar e selarmos as fendas abertas.  Enquanto procurarmos por agentes externos, como causadores do problema, a edificação continuará avariada e continuaremos a contar novas mentiras, para preencher os buracos.  Inverter a posição dessas peças defeituosas, voltar o lado externo para dentro - é o segredo.   Esse trabalho de restauração exigirá determinação e coragem ... ou melhor, coragem e determinação - nessa exata ordem!


sexta-feira, 13 de maio de 2022

1491

UMA  ESCALADA SOLITÁRIA




Todos estamos na subida, que por ser íngreme e imprevisível, requer esforço e inteligência, na tarefa árdua de galgar um a um, os degraus.  Olhando-a de longe, até parece uma rampa, que sobe suavemente em direção às novas atmosferas, mais rarefeitas, porém mais claras, mas isso só acontece quando observamos a vida dos outros.  No afã da nossa escalada, vamos conhecer de fato, seus obstáculos, sua inclinação, seus níveis de dificuldade e também as nossas limitações - o peso do nosso corpo mais o peso das pedras que carregamos, ladeira acima.  É por essa razão, que eu a descrevo como sendo uma escada, uma escada com degraus, mas degraus assimétricos e em linha incerta, que exige de nós superação física e emocional.  

Embora o caminho seja comum a todos, podendo parecer que estamos lado a lado com as pessoas, isso não é verdade, pois cada um está num ponto determinado, na sua própria trajetória - ela é solitária.  Existem pedaços calmos e agradáveis, mas é natural, que uma pedra ou outra, escape das nossas mãos ou das nossas costas e role ladeira abaixo.  É comum, alguma pedra que não é nossa, interferir na nossa subida, quando tentamos carregá-la no dorso.  Uma outra, cai das mãos de quem está muito próximo de nós, seu peso se intensifica pela queda e a aceleração a faz mais danosa, quando nos atropela e retarda a nossa subida - é como se nos segurassem estacionários, num ponto qualquer.  Há também aqueles que se oferecem para carregar uma parte do nossa carga. Tem de tudo.

A escalada é trabalho para uma vida inteira e outras mais.  É um feito que requer de nós, a força, equilíbrio e determinação das cabras mais a mansidão dos carneiros.



quarta-feira, 11 de maio de 2022


1490 

APENAS UMA




Eu sou muitas.  Tenho umas que são feitas de seda, outras feitas de áspero.  Em contrapartida, eu crio coragem e digo, às vezes, que sou feita de pedra, noutras de puro tecido nervoso, que sente e ressente, e até se arrepende. São tantas, que nem eu sei, quando e quanto posso confiar no espelho, quando ele vai se quebrar como eu, em muitos cacos ou quanto vai aguentar a verdade refletida.

Algumas ferem a mim mesma, outras se deixam ferir, por amor ou qualquer outro motivo.  Eu não diria que são caras (de rostos) ..., mas de sentimentos e emoções, talvez mal controlados.  Porque no fundo, sou uma só, quando consigo juntá-las, não a todas, mas ao maior número possível delas - minhas facetas dispersas e em lapidação, eu diria!  Eu sinto, que não no fundo, mas bem no meio, elas dividem/partilham o mesmo coração.



terça-feira, 10 de maio de 2022

 1489

DE MEIAS OU TOUCA?




Podia estar o maior frio, minha avó nunca dormia de meias, e sempre que questionada, ela respondia com essa frase: "Quem dorme de meia é defunto."   Ora, eu durmo de meias, às vezes, e não sou defunto.  Mas como tudo o que ela dizia tinha um fundo de verdade, mesmo que parecesse absurdo ou que não fizesse sentido na hora, a posteridade sempre, tratava de explicar. 

Se em lugar de meias, colocarmos a palavra 'touca', talvez comece a fazer sentido.  'Dormir de touca' é bobear; deixar-se enganar (*).  Fazendo um paralelo, entre meias e touca, podemos chegar no significado da frase.  Para mim, a essência é a mesma, dormir de meias ou de touca dá no mesmo.

Ela sempre foi mulher muito esperta, enganá-la era algo que exigia um grande trabalho, de palavras, de gestual, de olhares.  Muito embora, 'um alguém' tivesse a certeza de que tinha sido convincente, nessa empreitada; era certo, de que ela tinha permitido, parecer 'se deixar enganar' - e nesse caso o enganado era esse 'um alguém'.  Porque minha avó não era mulher que dormisse nem de meias, nem de touca.  E mais ainda, enquanto a gente ia com o farinha, ela já voltava com o cuscuz prontinho.



(*)  www.dicionarioinformal.com.br 

arte __ brendda lima

terça-feira, 3 de maio de 2022

1488

MEUS DIREITOS




Hoje, reivindico o meu direito de permanecer calado, como assim faço, quando desejo falar, o solicito e falo.  

Tenho dias em que preciso falar, sob a pena de transbordar-me em impropérios ou assistir impotente, a implosão de minhas convicções, caso não seja permitido, expressar-me de forma elaborada.

Tenho também, aqueles dias em que, não tem palavra que simbolize com exatidão, o sentimento ou a emoção, contidos do lado de dentro - a 'quinta emenda' me previne de uma possível autoincriminação.  Eu me recolho e coloco o meu indicador direito sobre a minha boca, e assim, é impossível me manifestar de todas as formas que conheço.  Nestes, eu invoco o meu direito, em relação à obrigação de falar - e não digo nada, mesmo porque, não seria nada que prestasse.