quarta-feira, 21 de julho de 2021

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IMPERIOSO E EVIDENTE



Eu não sinto o tempo passar.  E não o vejo, com suas pernas curtas, percorrendo obstinado, os segundos e os anos.  Eu pressinto a sua passagem, nas articulações doloridas; eu constato o seu avanço, nas fotos atuais, comparadas às antigas; e muito mais, no reflexo escancarado, que o  espelho me devolve.  Ele nos afasta das tristezas, mas igualmente, nos afasta dos que amamos.

Os nossos passos, um pouco mais lentos; os contornos mais murchos; o olhar menos cintilante - atestam a sua existência, um fato imperioso e evidente.  Uma vontade mais fraca ou mais forte, em relação a outra época e intenção.  Mais ou menos coragem, de mudar algo que incomoda.  Maior importância ou menor, dada às coisas; inversão nas prioridades, que nos consumiam.  Eu me convenço de sua passagem, na dor que ainda dói, mas que não me causa o sofrimento de antes.  Porque afinal, envelhecer deve render algo de bom, uma conquista ou prêmio, no entendimento, no aprendizado - a própria experiência.  O tempo tem como virtude, passar despercebido, mas não nos poupa de seus efeitos.

Posso até dizer, que alguém não mudou nada; mas estarei mentindo, porque mudou sim, pode até, ter mudado quase nada, na aparência física; mas no íntimo(?) - é certo, que já é outra pessoa. Talvez eu escolha dizer isso, para que não me digam, que estou tão passada, como o tempo que passou por mim e eu nem vi.  




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