sábado, 10 de julho de 2021

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DOCE AZUL






De vez em sempre, gosto de 'viajar', na imaginação, é claro, não me custa nada, nem preciso de bagagem.

Se apurar minha audição, posso ouvir o som da cor azul, nas ondas que se espalham pela areia.  Do marulhar das águas agitadas ou na quietude delas, capto cantos e vozes indistintas, que me chegam, antes ao coração, do que aos ouvidos.  Da correnteza doce, sou capaz de escutar as serpentes azuis, esgueirando-se furtivas sobre o solo, cortando-o em profundas fendas.  É do som dos céus que se move, batendo todos os seus tipos de asas; do avião que rasga o grande pano, cheio de entremeios brancos; que eu concluo: 'as cores estão vivas', não na intensidade dos tons, mas no sentido de terem vida - é no meio delas que os seres transitam.  

O azul, como todas as outras cores, é capaz de conter em si, um multiverso de reinos da criação, que talvez nos escapem à percepção.

E por estar assim, tão embrenhada na cor azul, e ela, estar tão dentro de mim, arrisco-me a dizer: que além de auferir seu som, sinto também seu aroma, perfume ou como quiserem chamar seu cheiro.  Relaciono minhas impressões, com as manhãs claras: então, tenho grandes montanhas azuis, sendo iluminadas pelo sol, ao fundo de uma planície.  Do azul longínquo exalam odores de floresta, essências de flores e folhas, curativas, balsamizantes, enfeitadeiras e que se alastram pela atmosfera.  Correspondendo aos sons que o mar emite, estão também a brisa marinha roçando a minha pele e suas partículas voláteis atingindo em cheio o meu faro.  É impossível, que eu não me lembre das balinhas de aniz da minha infância, azuis, minhas preferidas ...  Por associação de ideias ... é automático, que essa lembrança me puxe de volta àquele tempo ... e uma miniatura de mim relembra o sabor desse doce azul.



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