1375
DOCE AZUL
De vez em sempre, gosto de 'viajar', na imaginação, é claro, não me custa nada, nem preciso de bagagem.
Se apurar minha audição, posso ouvir o som da cor azul, nas ondas que se espalham pela areia. Do marulhar das águas agitadas ou na quietude delas, capto cantos e vozes indistintas, que me chegam, antes ao coração, do que aos ouvidos. Da correnteza doce, sou capaz de escutar as serpentes azuis, esgueirando-se furtivas sobre o solo, cortando-o em profundas fendas. É do som dos céus que se move, batendo todos os seus tipos de asas; do avião que rasga o grande pano, cheio de entremeios brancos; que eu concluo: 'as cores estão vivas', não na intensidade dos tons, mas no sentido de terem vida - é no meio delas que os seres transitam.
O azul, como todas as outras cores, é capaz de conter em si, um multiverso de reinos da criação, que talvez nos escapem à percepção.
E por estar assim, tão embrenhada na cor azul, e ela, estar tão dentro de mim, arrisco-me a dizer: que além de auferir seu som, sinto também seu aroma, perfume ou como quiserem chamar seu cheiro. Relaciono minhas impressões, com as manhãs claras: então, tenho grandes montanhas azuis, sendo iluminadas pelo sol, ao fundo de uma planície. Do azul longínquo exalam odores de floresta, essências de flores e folhas, curativas, balsamizantes, enfeitadeiras e que se alastram pela atmosfera. Correspondendo aos sons que o mar emite, estão também a brisa marinha roçando a minha pele e suas partículas voláteis atingindo em cheio o meu faro. É impossível, que eu não me lembre das balinhas de aniz da minha infância, azuis, minhas preferidas ... Por associação de ideias ... é automático, que essa lembrança me puxe de volta àquele tempo ... e uma miniatura de mim relembra o sabor desse doce azul.
Nenhum comentário:
Postar um comentário