terça-feira, 29 de dezembro de 2020

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AR, ESPAÇO E TEMPO

29/12/20


Por ter falado ou por ter omitido, quando foi inconveniente dizer.  Ainda quando calei, por falta de coragem ou por não ter nada a dizer ... só pude fazê-lo porque ganhei a faculdade de pensar, elaborar e articular a palavra.  Por ter recebido, mais do que dei; por estar por aqui, mais por misericórdia, do que por merecimento; e mais tarde, por ter aceito o que recebi ...  eu sou grata.

Um fragmento de coração, quando em mim, não havia nenhum outro órgão, abraçou o rudimento de vida recebido e então começamos a senti-la e a gerenciá-la - mais por um propósito oculto da própria vida, embora inconsciente, de minha parte.  Apenas aquiesci sem opor resistência.

Até que um sistema nervoso estivesse pronto, para preencher a fôrma insipiente que daria origem à minha forma, necessária a abrigar meu espírito; não presidi a compactação do meu ser, como algo já inteligente - tive quem pensasse e o fizesse por mim, antes da aquisição da consciência.

Por um ato de amor a mim mesma, supriu-me de tudo que precisei, para que eu pudesse chegar a pensar e não só para isso, para obter muitas outras capacidades, de demonstrar os vários tipos de expressões de vida, sempre pulsando por mim, até que eu me desse conta, de que sou gente, que devo defender essa vida, a qualquer custo.  

Com os olhos da matéria, pude ver as coisas e aprender a enxergar além dela, com outros olhos que não têm cor, nem matéria, nem formato; ou se tiverem cor, matéria e formato - eu gostaria de saber como eles são e do que são feitos.

Sentindo esse pulsar instintivo, essa sensibilidade que se espalha pelos nervos, contrai os músculos e se propaga pela pele, posso saber exatamente - que o mesmo se deu e se dá com outros, com os quais eu compartilho o ar, o espaço e o tempo.

Até o ultimo batimento, espaçado e fraco, sigo alimentando e defendendo a dádiva de estar por aqui.




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