segunda-feira, 14 de dezembro de 2020


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SEM PERMISSÃO

14/12/20

Amei-te primeiro com o coração, que vazio de atenção, viu que chegavas de mansinho, com tuas palavras e gestos; mas ele inocente, não se apercebeu do que lhe acontecia - tu te acomodavas dentro.  Talvez despretensioso, não fazias por mal, mas acabou fazendo-me um enorme bem.  Não houve anúncio e nenhuma introdução.

Um dia, vi olhos perturbadores e não reconheci de pronto, que eram os teus.  Quando me dei conta, meu coração deu uma cambalhota, me avisando que estava vivo ... e ele não foi o único músculo a se descontrolar espontaneamente, porque meu rosto descontraiu-se num sorriso, incapaz de esconder.  Procurei a explicação ... então percebi que te amei com os olhos. 

Na sequência, reviraram-se, o meu estômago e o meu sossego e as minhas emoções, havia todo um rebuliço se dando, sem esperar pela minha permissão ... então percebi que já amava com as entranhas. 

Desde esse dia, não restou dúvida e guardo para mim esta descoberta.  Amo-te com o coração, com os olhos, a boca, o sentimento e toda a minha essência, como se te amasse desde outra vida, e que esta, é apenas reencontro. 

Posso ver-te claramente, sobre uma biga dourada, em movimento, todo paramentado e com as rédeas na mão, a pele morena contra o vento é fustigada pela nuvem de areia que se levantava, debaixo do sol causticante, do enigmático Egito Antigo - imediatamente, reconheci, de onde nos conhecemos.

Passei a padecer de um mal, que não tenho como evitar.  A tua ausência me fere e temo, fazer pesar sobre ti, o meu afeto, por isso me calo. Tornei-me pedinte, a espera de uma palavra, um gesto, um olhar, uma alegria, qualquer coisa que mantenha vivo este coração, que se mostrou sem porteira, sem preconceito e sem idade.


arte | rafal olbinski


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