sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

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ENTRE O PRESENTE E O FUTURO
11/12/20

Quando eu ouço aquela música, que não era nossa, mas que elegi como sendo ... eu sinto cada dedo, que toca as teclas do piano, tocando no meu coração, como se ele também tivesse cordas. Cada som saído do sax, insufla nele, mais ar ... e doí ... para depois deixá-lo vazio, sem dor alguma.  Eu sinto meus pontos nevrálgicos todos à flor da pele, exalo nostalgia pelos poros.

Aos poucos, a melodia vai me levando, para um lugar em que eu não encaixo mais, porque é passado; para depois me arremessar, com força, a um canto obscuro, onde estou só - algo entre o presente e o futuro.  Me dá ganas, de não querer mais escutá-la ou de maldizer o dia em que me tonei assim, suscetível à faltas de ar e arroubos de tristeza persistente. 

Mas quando passa a dor e raciocino melhor, vejo que a vida não teria sido viva ... Mil vezes chorar pelo que perdi, do que por nunca ter tido, ou nunca ter rido solto, do jeito que ri.  Não sei se quero, ou se não quero continuar nessa, quando lembro de nós, ou melhor de nós - sem você, de nós - só comigo, por mais que pense a respeito, eu me vejo numa sinuca de bico - sem taco e sem bola, num mato sem cachorro e sem mato algum ... talvez sendo o próprio cachorro! 

Em pensar, que tive você dentro do meu peito!  E depois, vi você se afastando de mim, cada vez mais, levando uma parte, que agora me faz tanta falta! Experimento uma profunda sensação de leito vazio!

Ninguém muda o passado. Não enxergamos onde pisamos e às vezes, pisamos em solo movediço, sem nos darmos conta ... e pela euforia do encontro, avançamos por território perigoso. No entanto, não há como não voltar atrás; como voltar atrás sem afundar; nem como seguir em frente, no esquecimento.  Porque há alguns fatos que dividem as águas, a linha do tempo, a certeza e a nossa esperança.

Cada vez mais reconheço em mim, um certo masoquismo: de reviver os momentos bons e forçosamente, exumar os tristes - pois não há como separá-los ... Por isso e nem por nada deste mundo, abriria mão de ter vivido o que vivi.




https://www.youtube.com/watch?v=EnVrYh_fwZg


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