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À BOCA FINA E SEM DÓ
26/12/20
Ela me olhou com olhos de 'nefertiti' - aqueles, que não se deixam penetrar, nem por um decreto do faraó - mas que enquanto devassam os nossos, nos devastam a certeza.
No seu semblante lívido (quatro tons abaixo da minha própria lividez) ensaiou um sorriso de 'monalisa' - duro, que não dançava, nem sequer por uma pincelada delicada ... e desprovido de qualquer graça, articulou com a boca fina e sem dó, em alto e em bom som: "eu te disse!"
Mostrou-se para mim, em menos de meio busto, como se o que realmente importasse ... fosse a cabeça, em primeiro lugar e em segundo, apenas a pontinha superior do coração ... e que tudo que estivesse no chão dele, não teria vez, devendo ser desconsiderado.
A verdade é sempre verdade, mesmo quando se mostra numa pequena parte de si ... a princípio como um presente grego ou uma punhalada, que mais tarde vai sendo absorvida, diminuindo o espanto, drenando o sangue vertido.
A mim, foi o que ela fez, mostrou-se o menos que pôde, mas não foi necessário que tivesse sido mais, porque entendi de pronto, o que quis dizer. Contou com o efeito surpresa e com o anestésico natural do inesperado, para não me ver caído e petrificado, no ato da revelação - ao que, seus olhos nunca estariam preparados para assistir.
Nefertiti - rainha do Egito
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