sábado, 12 de dezembro de 2020

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SEJA QUAL SEJA

12/12/20

Sofro de palavras presas, que estalam nos meus ouvidos, o tempo todo.  Por não permitir soltá-las, entalam na minha garganta e fogem para o papel. Coleciono e guardo, até certo momento, pensamentos em efervescência ... que me obrigam a dar voz ao sujeito, e pessoa ao verbo, e muitos e muitos complementos ... quando não aceitam mais, ficar retidos na oficina, a espera da próxima edição.  Os gases emitidos pela minha elucubração mental, se escapam junto com os pensamentos, fazendo-os ficar mais revoltosos e ácidos.

Nada se fecha definitivamente, nenhuma questão. Mesmo depois de dito ou escrito, tenho sempre adendos, observações e emendas, a serem mencionados - no geral, de total importância e poucas vezes sem.  

Se tudo o que procuro, também está a me procurar ... um dia, hei de encontrar ou ser encontrada!

De vez em quando, deixo o sujeito prosseguir indeterminado, segurando o suspense. Quando é minha intenção, ele permanece oculto. O verbo, vai sempre no modo que me é mais enfático.  Os complementos, ah! os complementos! - os meus preferidos - abuso deles quando acho que posso e devo.

Dissimulo um pouco, quando não posso me declarar, mas eu conto com a perspicácia do entendedor, embora me recuse a usar meias palavras.

Repetições são propositais, como também a omissão de detalhes, se quiser implantar a 'pulga'.  A redundância, pode parecer uma afronta, mas é milimetricamente planejada, para obter o efeito desejado.  Minha intenção é única, me fazer entender quando quero ou desentender, quando é exatamente o que pretendo.  Juro que digo a verdade, a minha verdade, relativa, aumento um ou dois pontos em cada conto; mas às vezes, digo a verdade verdadeira, mesmo doída ou doida, sem tirar nem por.

Na oficina não há folga, domingo, doença, cansaço ou luto, que me faça desligar as máquinas, fechar as portas e encerrar o expediente.  Chega a ser tortura, o que fazem comigo. Começam aplicando-me a tortura brasileira, mas quando veem que não conseguem seu intuito, apelam à violência e empregam a tortura 'chinesa' (que só conhecia por nome, até agora) ... mas em se tratando de tortura, acho que sou alvo de todas elas, de todas as nacionalidades e espécies.

Costumo usar uma expressão, para descrever as coisas que me acontecem, involuntárias à minha vontade: como me ver submetida ao 'massacre da serra elétrica sem a serra'.  É assim que me sinto, sob o barulho e o furor de uma lâmina imaginária.

Não acredito que seja comum a todas as pessoas, esse 'desgaste de fosfato', esse 'quase regime de escravidão', que não dá descanso nunca, nem à noite, nem às horas mais absurdas.  

Concluo afinal, de que além de presas, as palavras são rebeldes, pois nunca obedecem a minha ordem, de se calarem, ao menos por um tempo - até que eu me levante, até que tenha em mãos um teclado, uma caneta e papel.  Elas me encurralam a um canto da oficina e começam a ditar, a falarem todas ao mesmo tempo,  sobrepondo-se umas às outras, sempre no imperativo, como se elas fossem minhas donas e não o contrário.

Seja qual seja, o assunto ou tema, interessa e diz respeito primeiro a mim mesma, embora não raramente, não seja de interesse de outras pessoas.  Sem dúvida, quando falo ou escrevo, é sobre meus conteúdos, são minhas considerações, de minhas observações, sobre os fatos comuns ou não, do dia a dia.

As palavras, eu as considero como minhas filhas.  Os pensamentos, como meus filhos.  Acredito aqui, de minha parte, haver uma falha de educação e uma clara falta de posicionamento, quanto à minha autoridade.  Porque afinal, eu devo coordenar minhas ideias  e não me deixar controlar por elas.



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