Ainda sou um ser, que mescla luz e
sombra, em meio ao barro grosseiro, de que fui feito. Constato que, de mais sombra do que luz.
Criado simples e ignorante, moldado de terra, água, fogo e ar, trago a rudeza e a garra dos aldeões vindos dos confins, pra se emanciparem nos grandes centros de civilização.
Debaixo
de máscaras mal feitas, existem dobras que escondem a insensatez das feras,
porém estas - são desprovidas de consciência, eu não.
A essência pode ser pura, mas os instintos permanecem aprisionados, a custo, e ainda ameaçam minhas conquistas e integridade.
Tropeço em resquícios trazidos de um passado tenebroso, refletidos nos fatos atuais, inflamando minhas vísceras.
Certamente minhas penas não se devem aos crimes cometidos por ora, são respingos de outrora. Ainda persigo os rastros e carrego os restos da escuridão de tempos remotos.
Estou a todo instante, a lutar pra sair da inconsciência, mas a cada passo em direção à consciência - a luta pra fugir das trevas, me faz tremer e temer, e supor, por assim dizer, que talvez fosse preferível, ficar na ignorância, do que ter que lidar com o desconhecido assustador. Porque antes desconhecia o medo, agora o tenho, porque antes eu apenas vi, agora enxergo.
Temo mais do que tudo, à minha animalidade, insistente em romper grilhões e
estourar celas, frequentemente, me mostrando os dentes, revelando as unhas
afiadas e língua ácida.
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