O vento de outono não precisava de pincel, ele usava a boca, pra
soprar a quantidade que quisesse, sobre as folhas do chão - as quais
havia escolhido usar como tinta, pra pintar a sua tela.
A pintura era viva, ou quase, ao olhar do observador. Ela acontecia e se fazia sujeita, apenas à vontade do vento - ao seu bel prazer - que a modificava a cada lufada sua.
As folhas vermelhas rodopiavam em contraste ao chão branco de granito, em todas as direções, quantas vezes quisesse o pintor, fazendo desenhos aleatórios que podiam ameaçar sair do branco.
Se a obra fosse minha, eu a chamaria de 'Panapaná vermelho' - uma nuvem de borboletas vermelhas, sobre tela branca, onde era possível ver os furinhos de sua textura.
Nunca vira folhas dessa cor, mais pareciam flores, que propriamente folhas.
O páteo era parte de uma praça muito maior, as pilastras que o circundavam - como preciosa moldura - eram feitas do mesmo material, da mesma pedra, extraída das mais altas e milenárias montanhas. As pilastras, ao inverso, eram baixas, pra que uma ou outra pessoa pudesse sobre elas debruçar-se.
panapaná = nuvem, bando de borboletas
Baseado numa cena do seriado 'O tempo entre costuras' ...
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