terça-feira, 13 de novembro de 2018

822 __ AH! ... COMO DESEJEI! __13/11/18



arte | crhristian schloe


O dia pedia pressa, como sempre.  Mais um semáforo, mais uma pausa, de tantas feitas obrigatórias e a contragosto, durante o meu trajeto rotineiro, entre o meu ponto de partida e o de chegada. 

Aquela pausa eu sabia, seria longa, porque era um grande cruzamento, com um fluxo intenso de trânsito, seria preciso uma paciência que eu não tinha, pra atravessá-lo.

Mas naquele dia foi diferente, sendo obrigado, mais uma vez a desacelerar e parar - eis que vi ao meu lado, pelo vidro fechado de seu carro, uma mulher, que também fora obrigada a desacelerar e aguardar por um bom tempo, igualmente - me esqueci da pressa, da rotina e pra onde ia.

Trazia o olhar compenetrado no sinal luminoso, enquanto parecia manter o seu pensamento preso por um fio, do lado de fora do vidro, como um daqueles balões de gás que tenta fugir - e só não o faz por estar preso.  Ele ia com ela, a uma certa distância.

Foi inexplicável, pois daquela vez o tempo não andou, ele correu e passou mais rápido do que eu gostaria.  

De inicio, ao lado daquela mulher, senti que certamente, eu a reconhecia de algum lugar, ou talvez não, fosse simplesmente alguém que  eu tivesse desejado muito encontrar.  

Então com a mesma sensação de estranheza,  me vi sentado ao seu lado, no banco do passageiro do seu carro, num teletransporte.  Dentro dele, por um encanto, estava eu sequestrado, muito próximo dela, a sondar os seus pensamentos, sentindo seu perfume e tentando tocar-lhe o ser.  Ah! ... como desejei fazer isso! 

Tudo isso apenas na minha intenção, pois era impossível sair do meu lugar pra ocupar outro.

Como disse, o tempo não andou, correu.  Não!  Na verdade ele voou.  Muito antes do que imaginava, tive que sair às pressas do banco do passageiro de seu carro e retornar ao meu lugar.

Não sei o que se deu ali, diante daquela faixa de pedestres, emparelhados como dois corredores numa maratona, esperando o sinal para disparar na corrida.

Algo aconteceu, talvez, pelo meu 'transmimento de pensação', devo ter chamado sua atenção de alguma forma, e antes que ela arrancasse com seu carro, por um instante retirou seus olhos do foco luminoso e dirigiu-me um pequeno olhar de soslaio, tímido e rápido - algo que, se eu não estivesse tão imerso em sua imagem e pessoa, eu nem teria percebido.

Ela, mais seu balão e carro desapareceram das minhas vistas, e não mais os vi, embora tenha sempre demorado meu olhar, naquele semáforo tão vagaroso e em outros mais.  Me arrependi de não ter feito o que desejei!


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