arte | crhristian schloe |
O dia pedia pressa, como sempre. Mais um semáforo, mais uma pausa, de tantas feitas obrigatórias e a contragosto, durante o meu trajeto rotineiro, entre o meu ponto de partida e o de chegada.
Aquela pausa eu sabia, seria longa, porque era um grande cruzamento, com um fluxo intenso de trânsito, seria preciso uma paciência que eu não tinha, pra atravessá-lo.
Mas naquele dia foi diferente, sendo obrigado, mais uma vez a desacelerar e parar - eis que vi ao meu lado, pelo vidro fechado de seu carro, uma mulher, que também fora obrigada a desacelerar e aguardar por um bom tempo, igualmente - me esqueci da pressa, da rotina e pra onde ia.
Trazia o olhar compenetrado no sinal luminoso, enquanto parecia manter o seu pensamento preso por um fio, do lado de fora do vidro, como um daqueles balões de gás que tenta fugir - e só não o faz por estar preso. Ele ia com ela, a uma certa distância.
Foi inexplicável, pois daquela vez o tempo não andou, ele correu e passou mais rápido do que eu gostaria.
De inicio, ao lado daquela mulher, senti que certamente, eu a reconhecia de algum lugar, ou talvez não, fosse simplesmente alguém que eu tivesse desejado muito encontrar.
Então com a mesma sensação de estranheza, me vi sentado ao seu lado, no banco do passageiro do seu carro, num teletransporte. Dentro dele, por um encanto, estava eu sequestrado, muito próximo dela, a sondar os seus pensamentos, sentindo seu perfume e tentando tocar-lhe o ser. Ah! ... como desejei fazer isso!
Tudo isso apenas na minha intenção, pois era impossível sair do meu lugar pra ocupar outro.
Como disse, o tempo não andou, correu. Não! Na verdade ele voou. Muito antes do que imaginava, tive que sair às pressas do banco do passageiro de seu carro e retornar ao meu lugar.
Não sei o que se deu ali, diante daquela faixa de pedestres, emparelhados como dois corredores numa maratona, esperando o sinal para disparar na corrida.
Algo aconteceu, talvez, pelo meu 'transmimento de pensação', devo ter chamado sua atenção de alguma forma, e antes que ela arrancasse com seu carro, por um instante retirou seus olhos do foco luminoso e dirigiu-me um pequeno olhar de soslaio, tímido e rápido - algo que, se eu não estivesse tão imerso em sua imagem e pessoa, eu nem teria percebido.
Ela, mais seu balão e carro desapareceram das minhas vistas, e não mais os vi, embora tenha sempre demorado meu olhar, naquele semáforo tão vagaroso e em outros mais. Me arrependi de não ter feito o que desejei!
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