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Engramas: marcas da experiência em nosso cérebro
Por engramas entendemos as marcas cerebrais deixadas por cada uma de nossas experiências. Este processo onde se formam pequenas estruturas neurais trazidas por uma sensação específica, um evento traumático ou uma emoção impossível de esquecer já foi definido pelo hinduísmo em sua época: eram os Samskaras, impressões de uma memória de aprendizagem.
Embora hoje ninguém duvide da existência de engramas, o mecanismo pelo qual essas impressões se formam ainda é um mistério. Sabemos, por exemplo, que quando vivemos uma experiência de alto estresse emocional, instantaneamente surge uma estrutura de interconexão neural estável que, posteriormente, influenciará todo o nosso funcionamento mental: pensamentos, emoções e comportamentos. Algo, sem dúvida, fascinante.
O termo engrama foi cunhado por Richard Semon e mais tarde investigado por Anton Pavlov, um cientista comportamental que nos trouxe trabalhos interessantes sobre aprendizagem e memória.
Agora, a maneira como a “marca neuronal” determinará nosso comportamento é algo que ninguém pode prever. Assim, dado este sutil mecanismo de ação, há quem enxergue os engramas como “chips” cerebrais; isto é, como registros em nosso “disco rígido” que nos levam a reagir de uma certa maneira.
Talvez possam ser os engramas que articulem muitos dos nossos medos, que nos levem a reagir de certa forma a certos estímulos – por exemplo, uma série de engramas foram formados em nossa infância. Falamos de um tema interessante que vale a pena aprofundar.
Engramas ou marcas de nossas experiências
Falamos no início do texto sobre o termo Samskara. Neste contexto filosófico, os hindus cunharam uma palavra para nomear este fenômeno. Vamos pensar como, às vezes, agimos de maneira singular diante de certos eventos quase sem saber por quê. Dentro desta corrente espiritual, os Samskara são interpretados como códigos do “karma“, como impressões de uma memória que é integrada tanto ao nosso corpo quanto à nossa mente.
Ao mesmo tempo, é curioso ver que em diferentes áreas científicas, como a neurociência, essa ideia tem uma história quase paralela. Vejamos um exemplo. Ana tem 5 anos e está aprendendo a andar de bicicleta. Em um dado momento, um grande cão a ataca e lhe dá uma mordida. Agora, 20 anos depois, Ana ainda não ousa andar de bicicleta. Ela não tem medo de cães, mas em seu cérebro foi criado um engrama que relaciona o ato de pedalar com medo e dor.
Os cientistas nos explicam que os engramas são uma prova clara de como o condicionamento clássico é orquestrado em nosso cérebro. Isto por que às vezes reagimos de uma maneira específica diante de estímulos que parecem bem “neutros”. No entanto, para que isto aconteça, para que se forme um engrama em nosso cérebro, deve haver uma ativação do sistema límbico, ou seja, precisamos viver uma emoção particular, reveladora, intensa… (seja positiva ou negativa).
Os engramas e nossos universos psíquicos
Hoje sabemos que grande parte de nossa vida psíquica é construída sobre engramas. Quando vemos uma rosa, por exemplo, sentimos um certo prazer porque antecipamos de alguma forma o seu cheiro, mesmo que ele não chegue até nós. Quando bebemos uma xícara de chocolate, evocamos lembranças da infância, quando ouvimos uma música que nos é familiar, experimentamos imediatamente uma série de sensações de bem-estar, prazer e e satisfação.
Os engramas formam a nossa consciência, e como as redes neurais que vão se construindo à medida que vivemos experiências, são como âncoras que traçam tudo que somos, o que nos faz reagir, vibrar de medo ou felicidade… É matéria orgânica e elétrica organizada com base em nossas interações. No entanto, para os neurocientistas é um desafio lançar luz sobre como se forma esta rede “físico-químico-neural”, por meio da qual vias sinápticas são geradas e neurônios são organizados para formar um engrama.
Para os cientistas, é fascinante pensar que exista um tipo específico de células nervosas para essa função. São, por assim dizer, estruturas orgânicas cuja única função é formar parte de nossa consciência, construir nossa psique, organizar-se em pequenos “microchips” de memória, onde habitam pequenos traços do que somos.
Estudos recentes, como os realizados pelos neurologistas Michele Pignatelli, Tomás J. Ryan e Susumu Tonegawa, revelam algo importante para nós. Quando nascemos, nosso cérebro já está geneticamente pronto para os engramas começarem a se ativar poucos segundos depois de chegarmos ao mundo. É como se cada um de nós tivesse um computador de fábrica, que ao ser “ligado” começa a instalar seu próprio software.
Agora, para que esta programação seja a melhor, a mais resistente e ao mesmo tempo ágil e eficaz, precisamos que nossas primeiras experiências, as da infância, sejam suficientemente estimulantes e positivas. Desta forma, nossos primeiros engramas neuronais serão fundações carregadas de energia, impressões de memórias e aprendizagens motivadoras que poderão potencializar ao máximo o nosso desenvolvimento.
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"É matéria orgânica e elétrica organizada com base em nossas interações."
A forma como as conexões se dão no cérebro infantil, é que vai determinar quais experiências terão traumas agregados a elas. Bem como, determinarão nossas reações, perante fatos que os acionarem ou não.
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