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UMA IMAGEM, UMA IDEIA
Dia desses, coçando freneticamente meus olhos, eu vi aquele monte de desenhos caleidoscópicos e coloridos que se formam, quando friccionamos o globo ocular, mesmo ainda, estando fechado. Antes que desaparecessem por completo, firmei o foco na imagem que se delineou e pude ver uma mulher sentada sobre o que parecia uma pedra, à beira de um rio. Tinha um perfil sereno, com roupas compridas e um pano cobrindo sua cabeça, como um tipo de véu grosso, do mesmo tecido da saia. Olhando de frente para a cena, o rio corria da esquerda para a direita e era justamente à margem direita que ela se encontrava, impassível. Não consegui identificar naquele olhar, nenhum tipo de emoção, apenas talvez, eu arrisco: um sentimento profundo de gratidão.
Procurei encontrar um significado para tal imagem, algo que fizesse sentido para mim. Foi automático, na sequência, logo me veio à mente, a palavra consciência. De imediato, não consegui ligar as duas coisas, não fazia ideia de como uma ponte havia sido estabelecida, entre a imagem e a palavra que saltou do nada. Confesso que pensei nessa figura por alguns dias, tentando organizar os ‘insights’ que surgiram na minha mente. Hipóteses passaram pela minha cabeça ... onde poderia localizar a representação da consciência? ... qual a representatividade do rio? ... não cheguei a conclusão alguma.
Como sei que toda ideia tem seu tempo de maturação, a demora não me incomodou e enfim, consegui entender o seu significado. Então, como alguém que aprecia por um longo tempo, uma pintura pendurada na parede de uma exposição - eu pude, por fim captar e decifrar o que ela queria transmitir, de uma forma que fez total sentido. O enigma havia sido decifrado.
Muito se fala sobre o peso que uma consciência pode carregar, e o que seria a consciência, então? … Algo capaz de conter medidas de peso, em pratos metálicos? Creio que essa ideia não seja a mais adequada! Pois a consciência é a lembrança em nós, do que fizemos ou não, de forma consciente ou nem tanto. O peso não é colocado nela, ele é agregado ao nosso coração.
Voltando agora para a imagem inicial, da mulher à beira do rio. Olhando-a de frente, a consciência corre para o lado direito, as águas que ora passam pela mulher e estão à sua esquerda, formam uma linha de continuidade ... as águas podem ser as mesmas, mas o rio já não o é.
A mulher da cena está de costas para as águas passadas, mas pelo sua postura calma, não é de desdém ou revolta pelo que já foi ou como as coisas aconteceram; mas de um sentimento de aceitação. Seu olhar suave repousa na direção das águas que ora passam e daquelas que se perdem das suas vistas - é nítido que não existe culpa, que possa pesar sobre as águas ou sobre o coração: o que libera o curso delas, em direção ao futuro e liberta a capacidade dele, de viver novos momentos de plenitude, com confiança e alegria, coloridos de novas cores e repletos de novos perfumes.