terça-feira, 19 de dezembro de 2023



1626




¿DE DÓNDE VIENE?

Dicen que el deseo nace de la voluntad del cuerpo. El deseo puede surgir de una aspiración a gritos del alma, de todo lo que busca con afán desesperado, desde hace siglos.  E cuando lo encuentras, valida toda la espera y búsqueda.

Ya no es el cuerpo el que pide plazer al cuerpo, sino el alma que desea ardientemente, ser tocada en lo más profundo.


arte __ rafal olbinski

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

1625




SEMEADURA E COLHEITA

As tempestades são feitas de ventos.  Coisa insana é querer colher algo diferente do que foi semeado.  

Cometo a grave insensatez, de querer manter-me no presente com os dois pés fincados nele.  Que fique claro, que insensato não é o desejo em si, por sua vez, inteiramente lícito e possível.  Absurdo é o comportamento, de não perceber que pisam separados - tem sempre um deles em tempo indevido.

Minha tendência é de esquecer um pé no passado, e como só tenho dois, é impraticável estar no presente.  Mesmo porque, me parece, que meu segundo pé tende a conservar-se suspenso no ar do futuro, aguardando um chão que ainda não foi concretizado. 

Não ando semeando presença, pés em tempos diferentes, cabeça sabe-se lá onde(?) e sentimento então(?), nem se fala!


quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

1624



CICLO INACABADO

O caminho que meus pés trilhavam, eu sabia que em algum momento, teria que fazê-lo de volta.  Mas nem por isso, eu me detive na caminhada, segui em frente, até que foi necessário voltar, porque não daria em nada.  Não sei bem ao certo, se o refiz por completo, se retornei e voltei de fato.  O que sei é que, nem você, nem eu estamos mais lá, mas o sentimento, às vezes está – insiste sentado sobre sua própria paciência, quem sabe esperando pelo nosso retorno ou para encerrar um ciclo, ainda em aberto.

Como se na verdade, houvesse algum atalho ou uma estrada vicinal ignorada, o sentimento inconformado, tenta conjugar-se no tempo futuro, porque para ele presente e passado são insuficientes.

sábado, 2 de dezembro de 2023

 1623




FALANDO GREGO

À primeira estrela que vejo, corro, e peço logo, um desejo.  Já que somos feitas da mesma matéria(?!), ela em luz, eu do seu pó – deveríamos nos entender.

Da ponta da pirâmide que me serve de invólucro - mais especificamente, do ponto épsilon - o mais alto, envio sinais de luz, mensageiros meus, carregados de intenções, atravessadores do éter, com destino à estrela.

Penso que não me faço entender, porque ela não me atende, e ainda me responde com sinais que eu não sou capaz de decodificar.  Às outras estrelas, envio a mesma mensagem, e nada.  Não sei ao certo, de qual delas eu vim(?) e, portanto, para qual direcionar meus pedidos(!)

Talvez, não tenha achado a estrela certa(?) Ou pode ser que não usemos da mesma linguagem(?) Também, quem mandou ‘falar grego’ com elas(!?) Resta ainda, a hipótese de eu estar equivocada, e ser poeira de um outro corpo celeste.  Em todos os casos, a comunicação não se faz.

 

Épsilon - nome da quinta letra do alfabeto grego ε, E.

arte __ christian schloe

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

1622




JUSTIÇA SEJA FEITA, SEMPRE! 

Eu concedo a mim mesmo, o 'benefício da dúvida', não no âmbito do direito criminal, pois ninguém está sendo acusado de nada - sem crime, sem culpado.   

É essa justiça que quero para mim - poder aliviar a consciência, pelas inúmeras possibilidades desprezadas, quando fiz a minha escolha.  Alívio também, para o coração, incerto de ter sido amado  ... e ele prefere acreditar que sim!

É esse o significado de benefício, nesse caso - uma certa clemência, para suavizar as minhas perdas; uma auto compaixão, pela minha própria desventura.  Parece que assim, a lâmina da incerteza diminui seu poder de corte; é óbvio que fere e ferirá, mas com menos profundidade, espero!

E ainda que seja necessário apontar um culpado, aponto a mim mesmo, como o único responsável, alternando-me entre os papéis de juiz, carrasco e sacrificado.


domingo, 19 de novembro de 2023


1621


UMA IMAGEM, UMA IDEIA

Dia desses, coçando freneticamente meus olhos, eu vi aquele monte de desenhos caleidoscópicos e coloridos que se formam, quando friccionamos o globo ocular, mesmo ainda, estando fechado.  Antes que desaparecessem por completo, firmei o foco na imagem que se delineou e pude ver uma mulher sentada sobre o que parecia uma pedra, à beira de um rio.   Tinha um perfil sereno, com roupas compridas e um pano cobrindo sua cabeça, como um tipo de véu grosso, do mesmo tecido da saia.  Olhando de frente para a cena, o rio corria da esquerda para a direita e era justamente à margem direita que ela se encontrava, impassível.  Não consegui identificar naquele olhar, nenhum tipo de emoção, apenas talvez, eu arrisco: um sentimento profundo de gratidão.

Procurei encontrar um significado para tal imagem, algo que fizesse sentido para mim.  Foi automático, na sequência, logo me veio à mente, a palavra consciência.  De imediato, não consegui ligar as duas coisas, não fazia ideia de como uma ponte havia sido estabelecida, entre a imagem e a palavra que saltou do nada.  Confesso que pensei nessa figura por alguns dias, tentando organizar os ‘insights’ que surgiram na minha mente.  Hipóteses passaram pela minha cabeça ... onde poderia localizar a representação da consciência? ... qual a representatividade do rio? ... não cheguei a conclusão alguma.


Como sei que toda ideia tem seu tempo de maturação, a demora não me incomodou e enfim, consegui entender o seu significado.  Então, como alguém que aprecia por um longo tempo, uma pintura pendurada na parede de uma exposição -  eu pude, por fim captar e decifrar o que ela queria transmitir, de uma forma que fez total sentido.  O enigma havia sido decifrado.


Muito se fala sobre o peso que uma consciência pode carregar, e o que seria a consciência, então?  … Algo capaz de conter medidas de peso, em pratos metálicos?  Creio que essa ideia não seja a mais adequada!  Pois a consciência é a lembrança em nós, do que fizemos ou não, de forma consciente ou nem tanto.  O peso não é colocado nela, ele é agregado ao nosso coração.


Voltando agora para a imagem inicial, da mulher à beira do rio.  Olhando-a de frente, a consciência corre para o lado direito, as águas que ora passam pela mulher e estão à sua esquerda, formam uma linha de continuidade ... as águas podem ser as mesmas, mas o rio já não o é.


A mulher da cena está de costas para as águas passadas, mas pelo sua postura calma, não é de desdém ou revolta pelo que já foi ou como as coisas aconteceram; mas de um sentimento de aceitação.  Seu olhar suave repousa na direção das águas que ora passam e daquelas que se perdem das suas vistas - é nítido que não existe culpa, que possa pesar sobre as águas ou sobre o coração: o que libera o curso delas, em direção ao futuro e liberta a capacidade dele, de viver novos momentos de plenitude, com confiança e alegria, coloridos de novas cores e repletos de novos perfumes.



sexta-feira, 10 de novembro de 2023

       1620



 


MEU TAMANCO AMARELO


Eu me lembro dele perfeitamente, como se o visse agora, nos meus pezinhos brancos e pequenos. Tinha tirinhas amarelas em número maior do que as brancas, cruzando umas sobre as outras, por isso mesmo me lembro dele como ‘meu tamanquinho amarelo’.  O solado era feito de madeira clara e barulhenta ao dar meus passinhos, detalhe que fazia dele - meu calçado ideal.  Eu calculo quanto eu perturbei, com o toque dele no chão, cada vez que eu pisava, mas disso também não me lembro.  Acho que eu me achei o máximo - para cima e para baixo, com o meu pisar sendo notado por todos - a avisar: olha quem está passando!


Foi meu avô quem comprou para mim, e eu imagino que ele não deve ter resistido à minha carinha de apaixonada, tão logo botei meus olhinhos sobre ele, na vitrine.  Estávamos numa viagem à praia, meus avós e eu; e por mais que eu gostasse de ir à praia, a minha lembrança dessa viagem não inclui nem o mar, nem as construções na areia, sinal de que, ele marcou mesmo minha memória.  Esse presente conseguiu superar até a minha paixão por bolsas, porque não consigo me lembrar de nenhuma delas no meu braço, enquanto fazia meus passeios com ele.


Coisa boa!  Essa lembrança me faz voltar lá, nos meus oito aninhos, tendo a atenção, o olhar carinhoso dos meus avós sobre mim e o toc-toc do meu tamanco, parecendo música aos meus ouvidos.




quarta-feira, 25 de outubro de 2023

1619





CORAJE Y VOLUNTAD

Antes de que el mundo pueda ver las brillantes luces de la paz, es necesario que la oscuridad incrustada en cada uno de nosotros sea destrozada con valentía y, en su lugar, implantemos el brillo que tanto deseamos ver, en el espacio que se ha abierto, con el firme deseo de hacerlo realidad!


arte __ christian schloe

terça-feira, 17 de outubro de 2023

 1618


CEDO OU TARDE, TARDE OU CEDO


Quem se auto proclama possuidor, obviamente necessita de obter o controle.  Mal sabe ele, que quem está sob controle é ele - porque ‘não se controla o incontrolável’.  Assim, passa a depender do objeto ou pessoa que tenta controlar, para buscar um equilíbrio, que ele mesmo alterou - ao escolher ter a posse, em vez de desfrutar das coisas ou da companhia das pessoas. 


A sua tentativa de controle não lhe garante satisfação, nem tampouco contenta aquele a  quem tenta prender - que cedo ou tarde, escapa-lhe das mãos.  Tarde ou cedo, as coisas se gastam por si mesmas.


Todos temos momentos de brilho e alegria, porém a vida não estende tapete vermelho a ninguém o tempo todo,  nem oferece pódio ou regalias constantes - ela não se presta a fazer barganhas e quando percebe uma intenção escusa e implícita, trata logo de mostrar quem é que define o rumo dos acontecimentos, porque ela é do jeito que tem que ser.  Os desejos são a aspiração do ser: de destaque e poder, mas o desapego é a lição a ser aprendida.


segunda-feira, 2 de outubro de 2023

1617



PELA PORTA ABERTA

De tempos em tempos, um terror se apossa do meu ser.  Não sei de onde vem, qual sua idade, porém conheço a sua fome.  De entrada, abocanha a minha fé, ainda morna, como iguaria rara e tenra; para depois se fartar das minhas outras boas defesas: espera paciente, enquanto elas esfriam sobre a pedra rústica da incerteza criada.  Na sequência, assalta as minhas emoções, ao provocar-me sensações desagradáveis; e sem explicar-se à razão, sequestra a minha atenção, a um turbilhão louco de ideias e sentimentos.

Creio que esse medo, misturado a um certo tremor, seja bem mais velho do que eu, mas sem dúvida, temos uma conexão, também de longa data - pois, ao aproximar-se, sempre, reconheço-lhe as feições e humores. Em algum lugar, deve haver uma porta esquecida aberta, que lhe dá chance de transpô-la e se acerca, sem cerimônia ou aviso. Passa por ela, sorrateira, uma emanação gelada e rasteira, de cor indefinida, até que se condensa numa figura disforme. Incoerentemente, essa massa fria causa-me um efeito ardente, nas vísceras contorcidas.


Felizmente, em algum momento dentro do turbilhão, entre as oscilações que tenho, encontro-me mais à superfície, e assim, mais próxima da saída.  Por misericórdia ou mérito, eu recupero a terra firme, e ele retorna ao reduto desconhecido. Infelizmente, minha fé ainda não é robusta o suficiente para rechaçá-lo, logo nas primeiras investidas. A porta precisa ser fechada, selando a entrada, para tornar inacessível a sua passagem.






sábado, 30 de setembro de 2023

 

1616




DESDE SIEMPRE

Lo que mis ojos no pudieron ver, mi alma lo contempló. Cuando no podía entender con mis oídos, era ella misma, el alma, quien decodificaba sonido a sonido. A veces, mi boca no podía verbalizar lo que había dentro de mí, pero mi alma no se dejaba malinterpretar y encontraba la manera de decir todo lo que sentía.


arte __ catrin welz-stein

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

1615




DESSE JEITO

Foi em secreto e no silêncio.  Estive à procura do seu rosto no meio da multidão, só por medo de esquecer-me de como era ou para alegrar o meu dia e depois, à noite, lembrar-me dele antes de dormir.  Amei, até meus olhos secarem pela espera ou até a esperança desesperançar, e eu então, guardei-o num quarto que só eu tinha a chave.  Foi do meu jeito, do jeito que pude. Amei até o coração se ressentir em cicatrizes; amei em cada acorde das canções que ouvi, em cada palavra que podia ser dita por mim e não disse.  Sem direito a confessar-me, tive a penitência como certa.


terça-feira, 5 de setembro de 2023

  1614


ORDEM E CLAREZA

Só aprendemos a arrumar as nossas coisas, quando a desordem interfere nas nossas ações; justo quando, ao procurarmos um objeto, achamos um outro procurado há tempos; quando visualizamos um objetivo e alcançamos outro, totalmente diferente.  A nossa vida tanto quanto a nossa casa, guarda-roupa, mesa de trabalho se tornam um emaranhado de tralhas desnecessárias, de papéis entulhados em espaços errados.  Coisas e pensamentos partilham da mesma confusão.  


Quando a vida fica insustentável, pelo desconforto de nunca sabermos onde está o quê; onde ficou a nossa intenção/atenção - onde estamos, de fato; o que fizemos com determinada situação … é que vemos a real necessidade de nos organizarmos dentro do espaço físico e do tempo que dispomos.   Essa atitude nos levará a um melhor e mais rápido desempenho, com decisões mais coerentes com nossos sentimentos, pois estaremos mais atentos a eles. Livres da poluição mental, decorrente da poluição visual, será possível maior foco nas nossas realizações.  É preciso limpar o espaço para podermos enxergar mais longe.


sábado, 2 de setembro de 2023

 1613




QUE ME MORDAM OS MACACOS

Para hoje - nenhuma urgência.  Tampouco nada que se adie, se for da competência deste dia.  Ao hoje - apenas as coisas de hoje.  Não pretendo vender o amanhã, afinal ainda não o tenho, ele nem nasceu!  Tampouco encherei o ‘hoje’, com preocupações igualmente  não nascidas.  Por mais que me venha a morder a ansiedade: aos nervos e às suposições; deixo a Deus o dia futuro e suas devidas inquietações.  Já me bastam o hoje e seus apropriados cuidados.

domingo, 20 de agosto de 2023

 1612



SOBRE CEREJAS E AZEITONAS


Da cereja que falta ou da azeitona culpada.  Nem toda cereja de bolo é cereja de fato.  Quase nunca, é a azeitona da empada, a responsável pelo desconforto no estômago.


Eu costumo dizer que as azeitonas salvam qualquer prato, sejam verdes ou pretas.  As verdadeiras cerejas são deliciosas, porém nem sempre vem acompanhando a fatia de bolo que nos cabe, raramente é isso que acontece.  Não é bem sobre elas que quero falar; na verdade, não sei onde toda essa explicação vai me levar!  Vou tentar dar um fim útil à narrativa.


Devo admitir que as duas podem fazer toda a diferença, mas muitas vezes, temos que seguir sem a presença delas na nossa vida, se compararmos um pedaço de bolo ou empada, às coisas que nos acontecem.  Quando não ‘as termos’, não depende de nós, quando é algo compulsório, quando o acesso ao pote de cerejas ou ao vidro de azeitonas é impossível, vai sem mesmo!


Acredito que o importante, é termos algo doce e algo salgado nas nossas vidas.  Que não nos faltem o bolo e a empada, com ou sem o coroamento da fatia, com ou sem o sabor inconfundível  que a azeitona dá.  


E quando formos agraciados com uma ou outra, saibamos apreciar com gratidão, aquilo que nos foi permitido ter.


Acho que de uma certa forma, consegui dar um desfecho coerente à ideia inicial!


sábado, 5 de agosto de 2023

1611





CARTA ABERTA


Saudade dos lábios brilhantes!  Nesse mundo de ‘nudes’ e ‘mates’, fiquei saudoso da boca úmida e viva!  E isso, não é poesia!  Eu me refiro às escolhas que é preciso fazer, forçosamente.  Escolher uma opção, dentre inúmeras, sendo que, antes, tería acesso a todos os atributos, num mesmo produto.  É como tratar a cabeça separada do corpo - como se não pertencesse a ele.  Como se importar com o fígado, sem considerar o resto dos órgãos.  Porém, isso é o que já se faz na medicina.


O que devo considerar sim, aqui, é que minhas águas correm, dentro de um leito, bem acima do mar - e isto também não é poético.  A vida segue por caminhos já escavados, na terra e pedra, feitos pelos que vieram antes de nós. A geografia muda, pela sua própria natureza.  As regras de convivência mudam, pela ganância do ser humano, de poder e dominação. O que se ‘lutou’ tanto para conquistar, se perde em pouquíssimo tempo. 


Já não sei se poderemos contar, com os leitos dos rios, para escoar as nossas vidas.  Se eles ainda estarão lá, ou se, modificados pelos interesses, serão extintos, fazendo a água secar em muitos lugares. 


Ah!  Tenho saudades das coisas, eu diria … ‘menos incertas’, que permitiam que as mesmas coisas fluíssem, apesar de todas as dificuldades!  Saudade do tempo em que se ouvia uma voz humana, do outro lado do telefone.  Saudade do tempo, em que mulheres e idosos, realmente tinham prioridade, ao subirem num ônibus.  Hoje, o educado é o inadequado, o bicho raro.


Na verdade, os nudes e mates são os menores problemas!  É o retrocesso, a volta à barbárie, à deseducação.  A involução, com inversão de valores, vendo conquistas de gerações, sendo jogadas no lixo.  Isso é que me faz lamentar, ter vivido para ver tudo desmoronar … talvez eu tivesse esse lamento, lá pelos meus oitenta anos(!) … quando estivesse sentindo a dificuldade de me encaixar(!).


Sei que para construir, às vezes é preciso desconstruir; mas essa alarmante desconstrução me mete medo; estou no meio de uma espécie de implosão do aprendizado humano, onde conceitos são queimados, feito livros perigosos.




quarta-feira, 26 de julho de 2023

1610




LINHA SOLTA E RESPONSABILIDADE

Sentimentos são espontâneos, livres como crianças - não mentem. Pensamentos são independentes, como cãezinhos que nos levam para passear. Comportamentos são nossos filhos, podem ser mal educados ou civilizados ... um resultado do nosso empenho nessa tarefa.

Nem todos os sentimentos podemos demonstrar, porque não somos mais crianças. Os pensamentos podem nascer independentes e seguirem a linha solta dos sentimentos, mas é importante segurarmos firmes a coleira e direcioná-los, para onde é conveniente que andem; porque afinal, pensamentos podem pensar.  Já os comportamentos, devemos passá-los pela peneira da inteligência, porque são eles que nos definem perante a convivência, como pessoas equilibradas ou cheias de conflitos.


Precisamos considerar e pensar a respeito dos sentimentos aos quais não dominamos e sobre os pensamentos que nos sequestram, às vezes, para terrenos perigosos; pois todos eles nos dizem muito, senão tudo sobre nós. Porém como coisa 'nossa' apenas, devem ficar sob nosso conhecimento, para nos fazer descobrir como lidar com eles, de uma forma racional, polida e misericordiosa, sem nos expormos numa reação desequilibrada, possivelmente evitável.




terça-feira, 18 de julho de 2023

1609



POR ENTRE AS CATARINAS

O hálito fresco da manhã sopra em minhas narinas e, por artimanha, atravessa as catarinas. Me faz esquecer do gosto da noite, deslizando pelo céu da minha boca.

Em respiração que arqueja por puro deleite, desemboca num mar quente, como embarcação que veleja confiante, no escuro.  Enquanto o mar tortura os rochedos, meu coração vem bater na ponta dos meus dedos.

A aorta pulsa. Escuto a vida bater à porta. Abro, é a esperança natimorta.



catarinas - seios de mulher

segunda-feira, 17 de julho de 2023

1608




MÃO À FACA

O oxigênio que enche meus pulmões e proporciona vida, é o mesmo que causa oxidação às células do meu corpo.  A comida que me mantém e dá satisfação às papilas gustativas, pode causar mal à saúde. O sol que aquece minha pele, termina por castigá-la, com o passar dos anos.  Respirar em ritmo acelerado e de maneira superficial;  a exposição à luz solar, em demasia, nas horas perigosas; alimento em excesso são erros cometidos, que nos custam caro.  O que nos nutre e dá vida, pode também ter um efeito contrário sobre a mesma vida.  Idêntico ao que acontece com as nossas emoções, quando sobrecarregamos nosso sistema nervoso.


No final das contas, é tudo uma questão de ‘equilíbrio’, tudo se resume em, sabermos usar as devidas medidas.  Não se pode alegar ignorância, o conhecimento está aí para todos. Quando escolhemos extrapolar, a respeito das coisas, ainda que prazerosas, damos a mão à faca ... ou seja, é a ponta da faca que se aproxima e fere a nossa mão em forma de murro.





segunda-feira, 10 de julho de 2023

 1607




INSTINTO/HÁBITO VERSUS RAZÃO/CONSCIÊNCIA

Muitas vezes, me pego sendo conduzida por um pensamento, que se comporta como um cãozinho afoito na coleira, que toma a dianteira, me levando para passear, em vez do contrário; mostrando-me quem é realmente, o encoleirado da vez.  Em não menos vezes, estou no lombo de um cavalo selvagem, desenfreado, sem sela ou arreio, que não se importa se me equilibro sobre ele ou se, preso a ele por cordões invisíveis, me arrasta pelo chão.


É preciso mostrar ao cãozinho, quem é que deve comandar o passeio.  Devo deixar claro ao cavalo, a hierarquia da consciência da criatura que ele carrega, um ser responsável por seus atos,  pelos caminhos por onde se permite andar e pelos resultados e consequências de suas escolhas.


quarta-feira, 5 de julho de 2023

1606



SEGREDO E REVELAÇÃO

O passado dorme silencioso, entre as dobras da escuridão das areias milenares, em suas câmaras secretas intocadas, à espera de um desbravador; que lhe possa trazer à luz, e nos contar a história que os tempos guardam.  Espera paciente a hora de seu ressurgimento, para sua glória e nosso espanto, ao nos revelar o inimaginável.  Aos poucos, os segredos enterrados, com os rastros de nossas origens vão sendo trazidos ao conhecimento humano, compondo nosso histórico, e os velhos tesouros - já não estão tão protegidos! Sob o toque das enxadas e mãos ávidas, de os catalogar e expor, nas plataformas e paredes dos museus, são arrancados do silêncio - saem direto, do anonimato, para a claridade da fama de seus descobridores.



segunda-feira, 3 de julho de 2023

 1605




DESERTO DE SAL

Vejo tua imagem refletida no espelho de sal, exatamente idêntica à original.  Não há uma gota de vento sequer, para balançar tuas roupas delicadas e teus cabelos, permaneces serena e imóvel. 


Inexplicavelmente, teu reflexo ganha vida e tuas vestes esvoaçam, teus contornos se contorcem sob uma brisa inexistente, posso jurar que tua mão faz um movimento, um aceno, pois percebes a minha presença.. Pergunto a mim mesmo, se estou lá de fato e o sal debaixo dos meus pés que ardem, dizem que estou.  Mas qual das duas imagens é a miragem, aquela que tem os pés sobre o sal ou a que os têm sob o sal? 



arte __ agnes cecile

sábado, 1 de julho de 2023

 1604




QUANDO E SE …

Tirei da parede o quadro dependurado e o guardei na gaveta.  Antes, retirei-lhe a bela moldura que tanto o valorizava!  Agora, só eu sei da sua existência, e ‘quando e se’ me der saudade, dou uma espiadela, bem rápida, mas bem rápida mesmo, para não sobrar tempo de ter nostalgia. 


Sobre a moldura(?),  já tenho uma imagem nova para ser enquadrada.  É assim, é preciso mudar as molduras, quando o que vemos, já não condiz com a importância que lhe demos.


1603



RETAS QUE DANÇAM

Imaginamos que seguimos numa trajetória reta, quando consideramos nosso ponto de partida e o ponto em que estamos, já que caminhamos pelo espaço e avançamos no tempo.  Na realidade, desenhamos uma linha que dança, rodopia, enrosca-se em si mesma, volta atrás e segue adiante; tudo isso num único segmento, ininterrupto, sem partir-se, numa continuidade quase sem sentido, revelando-se estar muito longe de ser uma reta.  Estes são movimentos que um gráfico elementar e cartesiano, é incapaz de mostrar, já que não considera outras variantes modificadoras da nossa trajetória. 


Sonhos, enganos, falsos atalhos é que nos tiram da simplista representação retilínea, e nos projetam a desvios surpreendentes, riscados de improviso - às vezes nos fazem voar, às vezes nos fazem rastejar, noutras nos fazem cair, bem abaixo do ponto inicial - num resultado bem diferente do que desejávamos. Deformam a trajetória imaginária, acrescentando um 3D a ela.




domingo, 25 de junho de 2023

 1602






OLHOS DE OUVIR E OUVIDOS DE VER E LER

Tão importante quanto compreender o que nos é dito, é ouvir e entender o que não é falado.  O gestual conta muito, como complemento.   As palavras não ditas, mas que podem estar subentendidas, na continuidade de um raciocínio, não concluído verbalmente - também fazem parte da comunicação, como ‘as meias-palavras ao bom entendedor’, e nesse caso, nenhuma! São palavras pensadas, que se incendeiam, antes de serem pronunciadas ou escritas.