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CARTA ABERTA
Saudade dos lábios brilhantes! Nesse mundo de ‘nudes’ e ‘mates’, fiquei saudoso da boca úmida e viva! E isso, não é poesia! Eu me refiro às escolhas que é preciso fazer, forçosamente. Escolher uma opção, dentre inúmeras, sendo que, antes, tería acesso a todos os atributos, num mesmo produto. É como tratar a cabeça separada do corpo - como se não pertencesse a ele. Como se importar com o fígado, sem considerar o resto dos órgãos. Porém, isso é o que já se faz na medicina.
O que devo considerar sim, aqui, é que minhas águas correm, dentro de um leito, bem acima do mar - e isto também não é poético. A vida segue por caminhos já escavados, na terra e pedra, feitos pelos que vieram antes de nós. A geografia muda, pela sua própria natureza. As regras de convivência mudam, pela ganância do ser humano, de poder e dominação. O que se ‘lutou’ tanto para conquistar, se perde em pouquíssimo tempo.
Já não sei se poderemos contar, com os leitos dos rios, para escoar as nossas vidas. Se eles ainda estarão lá, ou se, modificados pelos interesses, serão extintos, fazendo a água secar em muitos lugares.
Ah! Tenho saudades das coisas, eu diria … ‘menos incertas’, que permitiam que as mesmas coisas fluíssem, apesar de todas as dificuldades! Saudade do tempo em que se ouvia uma voz humana, do outro lado do telefone. Saudade do tempo, em que mulheres e idosos, realmente tinham prioridade, ao subirem num ônibus. Hoje, o educado é o inadequado, o bicho raro.
Na verdade, os nudes e mates são os menores problemas! É o retrocesso, a volta à barbárie, à deseducação. A involução, com inversão de valores, vendo conquistas de gerações, sendo jogadas no lixo. Isso é que me faz lamentar, ter vivido para ver tudo desmoronar … talvez eu tivesse esse lamento, lá pelos meus oitenta anos(!) … quando estivesse sentindo a dificuldade de me encaixar(!).
Sei que para construir, às vezes é preciso desconstruir; mas essa alarmante desconstrução me mete medo; estou no meio de uma espécie de implosão do aprendizado humano, onde conceitos são queimados, feito livros perigosos.
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