sexta-feira, 10 de novembro de 2023

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MEU TAMANCO AMARELO


Eu me lembro dele perfeitamente, como se o visse agora, nos meus pezinhos brancos e pequenos. Tinha tirinhas amarelas em número maior do que as brancas, cruzando umas sobre as outras, por isso mesmo me lembro dele como ‘meu tamanquinho amarelo’.  O solado era feito de madeira clara e barulhenta ao dar meus passinhos, detalhe que fazia dele - meu calçado ideal.  Eu calculo quanto eu perturbei, com o toque dele no chão, cada vez que eu pisava, mas disso também não me lembro.  Acho que eu me achei o máximo - para cima e para baixo, com o meu pisar sendo notado por todos - a avisar: olha quem está passando!


Foi meu avô quem comprou para mim, e eu imagino que ele não deve ter resistido à minha carinha de apaixonada, tão logo botei meus olhinhos sobre ele, na vitrine.  Estávamos numa viagem à praia, meus avós e eu; e por mais que eu gostasse de ir à praia, a minha lembrança dessa viagem não inclui nem o mar, nem as construções na areia, sinal de que, ele marcou mesmo minha memória.  Esse presente conseguiu superar até a minha paixão por bolsas, porque não consigo me lembrar de nenhuma delas no meu braço, enquanto fazia meus passeios com ele.


Coisa boa!  Essa lembrança me faz voltar lá, nos meus oito aninhos, tendo a atenção, o olhar carinhoso dos meus avós sobre mim e o toc-toc do meu tamanco, parecendo música aos meus ouvidos.




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