segunda-feira, 21 de março de 2022

1471

NEM UM PIO




Da janela do quarto, com a cabeça encostada, sigo a noite arrastada. Dessas noites, um dia colorido vem de um parto dolorido.  Sem pressa, ela passa, sem ruídos próprios, só os meus, na cabeça infestada. Ouço o som de pneus friccionados  no asfalto, me vem logo um sobressalto ... um crocodilo amarelo à espreita no fosso do castelo!  ... Vê só quantos ruídos sou capaz de escutar!?  Já nem preciso que a noite tenha os seus e nem que o crocodilo exista de verdade!  

Nenhum pássaro que se preze, ousa um só pio e ainda que eu reze; sinto um forte arrepio, quando me distraio, à procura de uma rima para 'pio'.  Penso logo num rio de águas frias, que me arrastam, quase como o vento lento, arrasta as escuras assimetrias.


Nenhum comentário:

Postar um comentário