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NEM UM PIO
Da janela do quarto, com a cabeça encostada, sigo a noite arrastada. Dessas noites, um dia colorido vem de um parto dolorido. Sem pressa, ela passa, sem ruídos próprios, só os meus, na cabeça infestada. Ouço o som de pneus friccionados no asfalto, me vem logo um sobressalto ... um crocodilo amarelo à espreita no fosso do castelo! ... Vê só quantos ruídos sou capaz de escutar!? Já nem preciso que a noite tenha os seus e nem que o crocodilo exista de verdade!
Nenhum pássaro que se preze, ousa um só pio e ainda que eu reze; sinto um forte arrepio, quando me distraio, à procura de uma rima para 'pio'. Penso logo num rio de águas frias, que me arrastam, quase como o vento lento, arrasta as escuras assimetrias.
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