domingo, 8 de novembro de 2020




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BEIJOS E UNGUENTOS, JOELHOS E FERIDAS

08/11/20


A poesia sabe cantar o belo, de uma forma leve.  Usa de cores suaves, ao criar uma tela quase real, às vezes, até mais transparente, do que o modelo.  Quase é possível, nos fazer tocar a maciez das palavras e a sua cadência - com as repetições de sons parecidos - nos traz bem estar e nos leva a um processo de êxtase, porque sua musicalidade, aos nossos ouvidos, causa um equilíbrio nas sensações e emoções.

A poesia tem recursos, para descrever a morte, sem de fato mostrar o punhal; ou de caso pensado, desenhá-lo com o brilho afiado e pontiagudo, que se faz sentir, enquanto corta a carne e verte o sangue.

A poesia também tem o poder de enfeitar o feio, sem lhe tirar a feiura, é claro, mas de amenizar sua carranca, mostrar-lhe a intenção ou a própria dor, que a motiva.  A poesia pode inclusive, se desejar, descrever a minúcia das imperfeições da carranca, com cores fortes e frias. 

Ela é artista, ilusionista, mas nunca mentirosa, não planeja nos enganar, apenas almeja, suavizar o que é pesado, enaltecer o que é preciso ser reconhecido como belo.  Pode até nos fazer encontrar, uma certa beleza e ternura na tristeza, ao assoprar as palavras certas, como beijos ou unguentos depositados, sobre os inevitáveis, joelhos ralados e feridas da alma, que a vida nos traz.



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