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JANELAS ABERTAS E PORTAS FECHADAS
26/10/20
Chega um dia, em que não é mais possível a reparação, nem direta, nem indireta. Não há mais tempo de dar a nós mesmos, aquele amor que nos negamos em receber - o vindo de dentro e o de fora - não há tempo de darmos ao outro, aquele amor que queríamos. Queimamos desejos em favor das convenções e compromissos.
Já não há como: desfrutar do conforto merecido e adiado, que podíamos ter tido e que esteve ao nosso alcance; de nos entregarmos ao descanso necessário ou à consideração justa. Além do que, a sensação deixada é: que todo o nosso empenho, não veio acompanhado da recompensa esperada.
O mesmo vale, pras coisas materiais, que deveriam nos servir, e que na realidade, nunca nos apossamos delas. O que dizer, daquela roupa nova, ainda na embalagem, bonita, que guardamos pra uma ocasião especial ... depois desse dia, um outro terá a oportunidade de fazer a 'estreia' dela. Não estou dizendo aqui, nada que reforce o apego ou negando a possibilidade de nossos pertences serem úteis à outra pessoa. O que quero dizer, é que chega uma hora, em que podemos até, ter uma festa, pra desencavar a roupa, ainda com etiqueta e usá-la - mas não temos disposição pra ir, nem saúde pra desfrutar.
Não se volta ao tempo pretérito, para reparar erros, fechar as 'janelas abertas' ou abrir as 'portas fechadas'. Não se tem mais nada, além do arrependimento; da sensação de perda, do próprio tempo e do contentamento - ao qual renunciamos. Tampouco, vão nos enterrar com aquela roupa nova.
As 'janelas abertas' são as lacunas que permitimos deixar em nossas vidas, por onde entrou tudo aquilo que não desejamos. As 'portas fechadas' foram os empecilhos colocados, por nós mesmos à felicidade.
Essa mudança, às vezes, nos obriga a mudar do lugar, onde nos acostumamos a viver. Nesse ponto, ao qual me refiro, a vida nos impele a fazermos, totalmente diferente, de todas as rotinas conhecidas - colhemos os resultados das nossas escolhas, da nossa limitação, das circunstâncias em que nos colocamos. Vemos então, o fim da história sendo escrito, como não desejamos.
Ninguém em sã consciência, erra por vontade. Ao tentar fazer o certo, sempre há equívocos, que nos levam aos caminhos não pensados. E como nada fica impune, nós sofremos as consequências dos nossos atos e das nossas omissões.
Aos nossos olhos, isso parece uma retribuição injusta da vida, mas não é - é apenas resultado: dos nossos erros de cálculo; da nossa inexperiência; da nossa imprevidência; da nossa carência; da nossa falta de coragem ou até mesmo, por escassez de inteligência.
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