VÓ MARIA E O SEU CHAPÉU DE NAPOLEÃO ______________ 473
Me
lembro das inúmeras vezes em que eu, por brincadeira, desmanchei o laço do seu
avental, mas não me lembro dela ter reclamado disso – ela simplesmente, lavava
as mãos e amarrava de novo.
Às voltas
com suas panelas e travessas, sempre fazendo muito barulho com elas, com um resultado
sempre maravilhoso, saindo do forno, quando apagasse a chama do fogão, ou
abrisse a geladeira. De salgados a
doces, ela fazia muito bem.
Nunca
soube qual o tempero exato que ela usava nos pratos que fazia - embora não fizesse segredo algum sobre isso – parece que nunca acertei a dose – porque o que fiz, não
chegou aos pés do que ela fazia. Era a gostosura dela, que saia por suas mãos e impregnava o que fazia.
Ela
era uma verdadeira alquimista na cozinha e na vida, com um limão sempre fazia
muito mais do que uma limonada, com dois ingredientes então ... era capaz de
nos surpreender com uma nova gostosura.
Permaneceu
firme, pilotando o fogão, até seus mais de oitenta anos, num exemplo de amor e
vida.
Não
houve uma só pessoa, que não tenha ido à sua casa e não experimentado ao menos um
dos seus quitutes. E eu digo quitutes, porque o mais trivial nas mãos dela, virava algo festivo.
Mas
não pense que o que ela fazia era só colocar a mesa e servir ... ela servia a
todos, de si mesma, da sua bondade e carinho.
Acho
que o prazer pela cozinha, eu puxei dela, mas apenas isso.
Quem
fosse esperto, comeria do que ela servia em sua mesa e beberia da sua
sabedoria!
Sobre
o chapéu de Napoleão ... ah! ... era uma torta doce em camadas, assadas uma a
uma, depois colocadas, intercaladas de um recheio de baunilha, ao final coberta
por calda farta de chocolate.
Falando
assim, era uma simples torta de massa e recheios doces, mas quando ela fazia, era
motivo para discórdia na família, porque todo mundo queria o meio da torta –
toda a gostosura se concentrava bem ali no meinho, a melhor parte, que se tornava pequena para
tantos ‘olhudos’, que a desejavam. O bom
era ser um dos últimos a comê-la, porque os apressados comeriam as bordas, mas o coração ficava para o final.
Depois
dela, essa torta já foi feita algumas vezes, por nós, suas netas ... mas posso dizer que em nenhuma delas foi digno de nota e não houve nenhuma discórdia em família!
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