quarta-feira, 21 de junho de 2017



VÓ MARIA E O SEU CHAPÉU DE NAPOLEÃO  ______________ 473







Me lembro das inúmeras vezes em que eu, por brincadeira, desmanchei o laço do seu avental, mas não me lembro dela ter reclamado disso – ela simplesmente, lavava as mãos e amarrava de novo. 

Às voltas com suas panelas e travessas, sempre fazendo muito barulho com elas, com um resultado sempre maravilhoso, saindo do forno, quando apagasse a chama do fogão, ou abrisse a geladeira.  De salgados a doces, ela fazia muito bem. 

Nunca soube qual o tempero exato que ela usava nos pratos que fazia - embora não fizesse segredo algum sobre isso – parece que nunca acertei a dose – porque o que fiz, não chegou aos pés do que ela fazia.  Era a gostosura dela, que saia por suas mãos e impregnava o que fazia.

Ela era uma verdadeira alquimista na cozinha e na vida, com um limão sempre fazia muito mais do que uma limonada, com dois ingredientes então ... era capaz de nos surpreender com uma nova gostosura.
Permaneceu firme, pilotando o fogão, até seus mais de oitenta anos, num exemplo de amor e vida. 

Não houve uma só pessoa, que não tenha ido à sua casa e não experimentado ao menos um dos seus quitutes. E eu digo quitutes, porque o mais trivial nas mãos dela, virava algo festivo.

Mas não pense que o que ela fazia era só colocar a mesa e servir ... ela servia a todos, de si mesma, da sua bondade e carinho.

Acho que o prazer pela cozinha, eu puxei dela, mas apenas isso.

Quem fosse esperto, comeria do que ela servia em sua mesa e beberia da sua sabedoria!

Sobre o chapéu de Napoleão ... ah! ... era uma torta doce em camadas, assadas uma a uma, depois colocadas, intercaladas de um recheio de baunilha, ao final coberta por calda farta de chocolate. 

Falando assim, era uma simples torta de massa e recheios doces, mas quando ela fazia, era motivo para discórdia na família, porque todo mundo queria o meio da torta – toda a gostosura se concentrava bem ali no meinho, a melhor parte, que se tornava pequena para tantos ‘olhudos’, que a desejavam.  O bom era ser um dos últimos a comê-la, porque os apressados comeriam as bordas, mas o coração ficava para o final.


Depois dela, essa torta já foi feita algumas vezes, por nós, suas netas ... mas posso dizer que em nenhuma delas foi digno de nota e não houve nenhuma discórdia em família!





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