CERTA CANÇÃO __________________________________ 472
Eu
ouvi aquela canção ... além de ouvir com os meus ouvidos, eu a ouvi com todas as minhas
células, todas as memórias quietas acordaram ... e sem resistência, fizeram vibrar
as cordas do meu piano interno – guardadas dentro de sua cauda de madeira nobre - no
meu peito ou nas minhas entranhas. Foi
para mim, como se as suas teclas, tocadas por dedos doloridos ... estivessem executando uma partitura que eu sei de cor.
A
canção desceu bem fundo, rasgou e cortou, desenterrou o que eu mesma não sabia que guardava lá. Embora na época
não tenha conhecido a letra dela ... foi o meu hino ao futuro, de esperança e
certeza nele mesmo. Se um dia fizessem um filme da
minha vida, essa canção seria o seu tema ... e mesmo que parecesse piegas, os
meus contemporâneos entenderiam.
Senti
meu coração espremido por uma mão gigante ... que torturado e sem ter para onde fugir, não se conteve ... fez subir à garganta - o seu desespero - até quase
me sufocar. Foi transbordar pelos meus olhos - que abertos - se viram
atrás de uma queda dágua larga e copiosa. Eu perdi temporariamente a visão.
Quando
as comportas estouraram, da boca também irromperam soluços e lamentos, em sons e resmungos
sem palavras.
Minha
jovenzinha e eu choramos juntas ... ora - eu estava aninhando em meu peito a sua
cabecinha ... ora - era ela quem me recebia no seu colo em posição fetal.
Senti
dó de mim - do tempo dos sonhos puros, legítimos e possíveis ... ao mesmo tempo,
tive pena de mim - dos acertos e dos inúmeros desacertos que fiz.
Pude estar ao mesmo tempo, nestes dois tempos e sentir suas dores. Aproveitei para chorar também, pela mulher que serei num
terceiro.
Essa é a canção:
https://www.youtube.com/watch?v=gIwtLumZeZY
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