sexta-feira, 23 de junho de 2017



PSI _________ 47 - Minhas considerações




Amor platônico: o desejo permanente pelo que nos falta










Platão dizia que só amamos o que desejamos e só desejamos aquilo que nos falta. Parece que já na época desse filósofo conhecido existia um sentimento tão devastador que perdura até hoje e está enraizado fortemente em cada um de nós: a constante insatisfação com a vida.
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Encontramos esse sentimento com mais frequência nos relacionamentos de casal. Existem muitas pessoas que precisam de um amor idealizado, perfeito … Esta visão nostálgica e romântica das relações, esse amor do “estar sempre apaixonado”, não por uma pessoa concreta, é o que os torna sempre insatisfeitos. Dessa forma, a sua ideia de amor não se baseia na realidade, mas na fantasia do que poderia ser ou poderia ter sido. Trata-se de um amor platônico.
Poucas vezes esse desejado amor platônico se torna realidade. É nesse momento que a pessoa entra em um estado de exaltação onde se sente embriagada e acredita ter preenchido esse vazio que a fazia sofrer tanto. 
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Desejo e prazer

Há muitas pessoas que só encontram prazer ou satisfação no desejo. Parece que desejar, sonhar, ter ilusões e idealizar é o motor que faz a sua vida seguir em frente. No entanto, quando elas alcançam tudo o que sonharam, ficam entediadas. Assim que conseguem tudo o que supostamente as completa, já não há mais espaço para o desejo e a projeção.
Mas, o que realmente acontece?  A pessoa platônica escapa, sai em busca novamente dessa dose de carência, desse desejo que é o que realmente a faz sentir viva. Mesmo que sofra, é um sofrimento com uma nuance doce e viciante. Acredita que deve haver algo melhor, algo que mantenha a sua ilusão dia após dia como se fosse o primeiro e, se não for assim, é por que não encontrou o que procurava: a sua missão é continuar buscando.
Muitas vezes pensamos que a felicidade está em outro lugar e que, se pudéssemos acessar esse local onde supostamente ela está nos esperando, toda a nossa insatisfação acabaria. Mas finalmente descobrimos que não é assim; que realmente não temos tudo para nos sentirmos completos e se soubéssemos modificar certos aspectos da vida cotidiana que raramente custam dinheiro, não teríamos que procurar a felicidade em outro lugar.
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Aprender a amar o que não nos falta

O desejo pelo o que ainda não conseguimos é sempre legítimo e, em muitos casos, não deixa de ser uma motivação positiva. Mas quando esse desejo se transforma em uma necessidade e, portanto, em um doloroso sofrimento, nos bloqueamos e nos sentimos vazios, permanentemente insatisfeitos e ansiosos.
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É preciso acabar  com o amor platônico e aprender a amar o que não nos falta, o que temos nas nossas vidas: seja o companheiro, o trabalho, os amigos, a nossa cidade. Tudo isso contém muitos aspectos positivos que muitas outras pessoas gostariam de ter. É uma visão particular de si mesmo, de limpar os vidros embaçados da rotina e da decepção, e de mudar voluntariamente os aspectos que não se encaixam na nossa vida. Viva com entusiasmo e motivação.

Se formos capazes de apreciar e ser gratos a cada dia pelo que temos na nossa vida, o sentimento de “sentir falta” deixará de nos ancorar em uma ilusão permanente. Viveremos o presente, nos alegraremos com o que nos acontece, aceitaremos as adversidades e sempre extrairemos uma lição ou uma parte positiva de qualquer situação.
É preciso abandonar as viagens mentais para o futuro, bem como as queixas repetidas e constantes que afastam até mesmo as pessoas mais tranquilas. Fique onde está, arrisque e mude o que você não gosta na sua vida, mas não deseje a perfeição e nem o impossível que nunca chegará. O que você tem já é o perfeito, é o que deve ser. Por que você não começa a aproveitar tudo isso?


(1) É como se sempre nos faltasse alguma coisa. Aos olhos dos outros, a nossa vida pode parecer invejável ou que não temos do que reclamar. Mas existe dentro de nós um vazio que não sabemos como preencher.

(2) O problema é que depois de um tempo, elas começam a perder o interesse e retornam para a mesma dinâmica com a qual estão acostumadas: desejar algo inatingível e se afundar no seu sofrimento com um novo amor platônico.

(3) O problema é que, na maioria das vezes, fazer essas mudanças nos aterroriza, nos deixa ansiosos, inseguros, e ficamos ancorados no que poderia ter sido.

(4) Esta maneira viver, paradoxalmente, não nos permite viver. Nós não somos livres, mas escravos de uma ideia que nos diz como a nossa vida deveria ser.






 _________ 47 - Minhas considerações


"... É uma visão particular de si mesmo, de limpar os vidros embaçados da rotina e da decepção, e de mudar voluntariamente os aspectos que não se encaixam na nossa vida ..."

A rotina cansa, a decepção machuca, sobretudo a decepção sobre nós mesmos, nossas expectativas e idealizações.




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