Fragmentos - 329
A palmeira e eu
Habitei muitas
peles, lembro-me.
Eu as deixei ao
longo do caminho.
De algumas, eu
escorreguei
como feto em aborto espontâneo.
De outras, não me desprendi senão, depois
de muita contração
dolorosa e convulsões.
Foram descartadas
por mim,
por eu não caber
mais dentro delas.
Uma palmeira, a cada
temporada,
ganha um novo anel
em seu tronco,
justamente onde
irrompeu
a sua folhagem
antiga,
que secou e caiu.
Ela terá suas folhas
renovadas.
Eu vou descartando as
minhas peles,
por não me serem mais
úteis.
Outras virão em
sucessão.
A palmeira guarda em
seu tronco
a sua história de
crescimento,
eu guardo na minha memória,
cada uma das peles
que usei.
A palmeira permanece
palmeira
e eu ... continuo sendo
a mesma ‘cobra’.
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