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RE_EDIÇÃO
* La soledad *
Sobe a escadaria escura e íngreme, degrau a degrau, estreitos; quem a pouco pisava pelas ruas frias, com seus saltos finos, aqueles que as mulheres deixaram de usar, há muito! À noite todas as peles são claras e a maquiagem carregou no batom. Longe da rua, numa sala mais ampla do que parece, a meia luz, vapores de álcool e fumaça pairam pelo ar. Não foi lá para fumar ou beber. Vestiu-se para dançar!
A música parece francesa... Um piano, num desses bares do mundo, onde todos os ritmos cantam e dançam as histórias vividas ou não. Algumas mesas ocupadas, poucos casais, homens solitários fazem argolas de fumaça com a boca, vidram seus olhos no líquido de seus copos.
A música não é mais francesa, o som das maracas é puro! Ela aproxima-se de uma mesa, onde um homem, pode se dizer a espera! Ele se levanta e vai em sua direção, colocam-se próximos para o primeiro movimento da dança... Lentamente iniciam seguros, acompanhando os sons dos instrumentos que se mesclam, como também o ritmo que evolui para um "meio" tango.
Alguém canta coisas de sua vida, enquanto os dançarinos se esgueiram em passos sincronizados, exatos. Se deixam ver; a brancura da carne através da fenda do vestido e a seriedade do rosto barbeado. Uma mulher e um homem incomuns. Impassíveis semblantes, debaixo do foco de luz; mas não impassíveis sentimentos, que esquentam as mãos, antes frias. Os olhos mergulham nos olhos. Além deles ninguém mais dança. Talvez seja muito tarde e o bar esteja prestes a fechar... É a vida, ali cantada e dançada, é só o que se pode ter naquele espaço de contornos indefinidos pelos vapores saturados. A que horas, em que lugar, em que país, em que época?
A boca pintada, entreaberta, prestes a falar. Pequenas gotículas aparecem em seu rosto, desprende-se da sua nuca o perfume que ele conhece tão bem! Executam a coreografia completa, fazendo valer o esforço da voz rouca que interpreta só para eles.
Um encontro com hora marcada, em local específico e sincronia de movimentos, sem discursos ou declarações dispensáveis.
Em circunstâncias estranhas para nós, não para eles!
Em circunstâncias estranhas para nós, não para eles!
Esse texto, eu escrevi ouvindo esta canção.
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