terça-feira, 31 de janeiro de 2017




Susana Nunes 
RUAS DE VIDAS
Quando aquela rua já não for rua
e for por exemplo apenas
o tempo em que me recordo dela
terei um poema para lhe ler
na vontade que terei de o escrever
Um dia, mesmo que ela deixe de ser rua
e nem comigo ela se queira encontrar
eu irei buscar os poetas e os livros
e por sobre ela os espalharei
mesmo que essa rua já não seja rua
e seja outra coisa qualquer
O que importa
é que me dispus a nela andar
a saborear o tempo das memórias
que teimam em não me abandonar
Quando aquela rua já não for rua
e for por exemplo apenas
o meu lembrar
hei-de nela me descalçar
p'rá encher do barulho dos meus pés presentes
outrora em passos recordados
que nunca os acharei cansados
num futuro que nunca esquecerei
Susana Nunes 30/01/2017
 
Ah!  Essa Clarice!




Ampliando o Olhar






"Quando estou muito quieta por fora, é que dentro de mim alguma coisa grita e eu preciso me ouvir."_______Clarice Lispector

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

domingo, 29 de janeiro de 2017

Fragmentos 359





Uma pá de cal


Sempre achei que a cal, servia pra dissolver e fazer sumir um cadáver, mas ela só retira o cheiro ruim que dele exala, enquanto este apodrece.

Eu pensei, que pudesse extinguir um sofrimento, por completo, despejando sobre ele, uma 'pá de cal'.  E apesar disso, agora sei, que ele o sofrimento, permanecerá deteriorando os tecidos - existindo -embora imperceptível ao olfato humano.

Isso é bem interessante, vem bem a calhar, deixar a podridão acontecer, quieta - enquanto os vermes fazem o seu trabalho.  Putrefação livre de odores!  Porque ninguém gosta de sentir maus cheiros, não é?




Fragmentos 358










'Paradeiro'


Onde se esconde ...
a lição não apreendida?
Anda por onde?
Na estante, no livro não lido?
Na pele, adoece em crescimento não concedido!
Ambos - cheios de fungo e  poeira!
No espaço, vagueia - é vivência esquecida 
... e a ferro e fogo - mantida!
Estará no inferno,  junto com a abortadeira!

O que é? ...  O que significa pra vida?
Um fruto, um feto sem chances?
Um futuro negado, talvez por crendices?

Decerto, no tempo - uma oportunidade perdida!
























sábado, 28 de janeiro de 2017

Ouça estes áudios!

https://www.youtube.com/watch?v=mxMpMaSZKQM

https://www.youtube.com/watch?v=kX4-OMWCdCc

https://www.youtube.com/watch?v=pUZeSYsU0Uk

https://www.youtube.com/watch?v=Mnhr7wn0noE




Fragmentos 357




Ela não sabe falar, só sabe sentir ...
Não faz canção, só sabe reconhecer se gosta!
Só anseia e lamenta, sem palavra, sem som 
... apenas vibra com as notas!
Não chora ou ri, só pulsa ou lateja!
E o latejo ... como dói!
Deixe que ela sinta  
todos os acordes da melodia
em seus altos e seus baixos!
Apenas, deixe-a chorar

... a alma!





*****
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Imagem: Christiane Schloe (arte)




"Simples carcaça"

 27/01/16 


Meu amor virou carcaça

largada à margem do rio

descartada por uma barcaça

outra coisa ocupou seu vazio!

 

Pediste-me  eu  que olhasse

tantos belos rostos de moça ...

e desejoso, corpos que abraçarias!

 

Esquecestes que já fui moça?

Que em tuas mãos ela morreu?

E ainda me perguntas...

Por quê? Por quê?


Me tornei mulher ... 

e de mulheres não entendes...

só de flores queres viver!

 

Quem come todo doce no começo

no fim - o café fica amargo 

e o prazer é deixado ao largo...

 

Quando recordas o meu frescor

culpas a mim de 'o' perder,

como se um crime eu cometesse

em tornar-me mulher!

Como se eu mesma o consumisse!

'O frescor'

E ele era tão efêmero!!!


Quanto às essas moças

se de uma delas se apossar...

se uma delas o quiser...

o que farás ...

quando ela for mulher?

Moças envelhecem!!!     






OS PSICOPATAS ESTÃO BEM MAIS PRÓXIMOS DO QUE VOCÊ IMAGINA!





OS PSICOPATAS ESTÃO BEM MAIS PRÓXIMOS DO QUE VOCÊ IMAGINA!: A psiquiatra Kátia Mecler prepara a segunda edição do seu livro “Psicopatas do Cotidiano“, lançado em agosto deste ano. Eles não são os temíveis assassinos
Fragmentos 356









__Pipocas na cama__


Sinal de bagunça,
sinal de presença!
É sinal de festa,
ausência de aresta!

Teve um filminho,
teve friozinho,
teve ‘juntinho’!
Amorzinho
e chamego!
Aconchego!
Aprochego!



sexta-feira, 27 de janeiro de 2017




*****
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90 -"Todo império cai" - 26/01/16

 


 

Tudo - que ao império ameaça

ao trono - do soberano tirano

com pressa é levado à praça ...

logo a cabeça perde seu dono.

 

Perigo que fica à espreita

quieto na viela estreita ...

ou sob a rocha no caminho

escondendo a cobra no ninho.

 

O seu medo é um gigante

que assustado se defende

num desespero torturante

nem a si mesmo entende!

 

Se um infeliz lhe atravessa  à frente

passa a ser um oponente ...

passa a sofrer-lhe a fúria constante!











Fragmentos 355





Aguaça





Se em janeiro, já somos atolados
em março, estaremos afogados!
Sem mais água no céu ... toda ela  no chão!
Nem um pingo na troposfera!
Temos que mudar a canção!
Em vez de 'fechando verão’ ...
‘Águas abrindo cratera’ ...
que leva até homem astuto
e todos ao viaduto!

Sem charuto enxuto
tudo lugar devoluto
produto soluto
de tanta umidade
sem mais validade!

Num mundo insano
entrarei pelo cano?
Ou o cano em mim
drenará o meu rim?
Terei criado bolor
com imenso fedor!

Devemos arranjar um bote?
Vou comprar um serrote!
Ou um capote?

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017



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"Lume" 
26/01/16



Olhe pra sua dor

equipare-se a ela, no tamanho

suba ou desça à altura que ela tem

seus olhos no mesmo nível dos dela!

Escute o que ela tem a lhe dizer

ela só quer ser ouvida

dê-lhe um pouco de sua ternura!

 

Equipe seu medo  ...

e ele  mais confiante,

não precisará ser tão grande e

[deixará de ser tão feroz...]

deixará de ferir indiscriminadamente

... suas garras desaparecerão!


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"Alcovas"  
           26/01/16


Há amores que não frequentam alcovas ...
se vestem para tanto, vão  até elas,
mas permanecem nos seus  corredores,
atrás das suas portas fechadas,
a escutarem seus sussurros e silêncios ...
Ficam do lado de fora,
só lhes falta  a coragem ...
porque amores ... existem!




A INVEJA, SEGUNDO RUBEM ALVES



Gosto de tomates. Resolvi plantar uns tomateiros lá em Pocinhas do Rio Verde (MG). Amadureceu o primeiro tomate, todo vermelho, com exceção de um pontinho preto na casca. Nem liguei para o ponto preto. Colhi o tomate e me preparei para comê-lo. Dei a primeira dentada e cuspi. O que havia dentro dele era um verme branco, grande, enrugado, gordo por haver comido toda a polpa do tomate.
Foi essa a imagem que me veio à memória quando me preparava para falar sobre o mais terrível de todos os demônios. Ninguém suspeita. Ele vai comendo por dentro as coisas boas que crescem no nosso quintal. Eu sempre digo: demônios fazem ninhos no corpo. Cada um tem sua preferência. Neste caso a que me refiro, o demônio faz seu ninho nos olhos. E ele não gosta de coisas ruins e feias. Como o verme, ele prefere os tomates. Gosta de coisas bonitas. E o resultado é que, quando uma coisa bonita que cresce no nosso quintal (note bem: o demônio só faz sua obra no nosso quintal) é tocada pelo olho onde mora o verme ela imediatamente murcha, apodrece, cai. E aí vêm as moscas.
O demônio que se aloja nos olhos se chama inveja. Inveja vem do latim invidere que, segundo o dicionário Webster, quer dizer “olhar pelos cantos dos olhos”. Inveja não olha de frente. Quem olha de frente tem prazer no que vê. Quem olha de lado olha com olho mau.Olho mau, olho gordo: muita gente tem medo desse olhar. Não precisa. O verme da inveja nunca faz nada com os tomates da horta alheia. Ele só come os tomates da horta da gente.
Explico: Fernando Pessoa diz que a inveja “dá movimento aos olhos”. Olho de inveja não olha numa direção só. Lembre-se do que eu disse: que o olho onde se aninha o verme da inveja só gosta de ver coisas bonitas. Então é assim que acontece.
Eu tenho um belo tomate crescendo no meu quintal. É certo que não há vermes dentro dele. Vai dar uma deliciosa salada. Mas antes, vou mostrar o meu tomate para meu vizinho… Um pouco de exibicionismo faz bem para o ego. Mas aí eu olho para o quintal do vizinho. Ele também cultiva tomates. Vejo o tomate que cresce no tomateiro dele. Lindo! Vermelhíssimo, mais bonito que o meu. É nesta hora que o verme entra no meu olho. Meus olhos se movimentam. Voltam-se para o meu tomate que era minha alegria e orgulho. Já não é mais. Vejo-o agora mirrado, pequeno murcho. E ele corresponde: apodrece repentinamente e cai… Perdi o prazer da minha salada.
Esse movimento dos olhos é a maldição da comparação. Quando eu comparo o meu ‘bom-bom-mesmo-mais-que-suficiente-para-me-fazer-feliz” com o “bom” maior do outro, fico infeliz. E o que antes me dava felicidade passa a me dar infelicidade. Com a comparação tem início a infelicidade humana. Isso acontece com tudo. Comparo minha casa, meu carro, minhas roupas, meu corpo, minha inteligência e até mesmo meu filho.

Frequentemente os filhos são vítimas no jogo de inveja dos seus pais. Aquele meu filho, que é a minha alegria, delícia de criança, com um jeitinho só dele e que me encanta… Mas o filho do vizinho tira notas mais altas que o meu, é campeão de natação, é mais forte, mais alto e não é gordinho… Então, meu olho se movimenta e o verme se aninha. E se dá o mesmo com meu tomate: apodrece.