Fragmentos - 291 _________________
_________________ A minha casa
Moro numa casa muito grande, com vários cômodos. Quando estiver perdida dentro deles, não
preciso de ninguém pra me achar – me deixe!
Tenho aqueles que estão nos andares de cima e os que ficam no porão.
Têm os que estão sempre
abertos, que não precisam de chave, sei como entrar e sair deles. Lá eu guardo as lembranças quentes e doces,
onde me sento confortável, ouvindo música e revendo fotos antigas. São nesses mesmos, em que posso permitir
a entrada de outras pessoas.
Têm aqueles que estão trancados à chave - escondida de mim
mesma – dos quais só vejo pela fresta da porta, quanta escuridão e barulhos estranhos trazem
confinados. Nunca
me arriscaria a entrar desacompanhada num desses – tenho medo de não achar a
saída e ficar por lá – me dão a impressão de que têm chão falso e paredes de
ar.
Mas tenho também, os que eu conheço as dimensões, porque
já os explorei antes, e me arrisco às vezes, em visitá-los. Uso o molho de chaves que carrego comigo ...
uma pra cada um! Cada vez que entro num
deles, reconheço um pouco mais do que guardo lá, faço alguma arrumação, mas ao
sair, passo a chave na fechadura pra que fique bem guardado – me certifico de
que dei duas voltas e que ninguém entre.
Desço ou subo as escadas, volto à sala de estar de casa ... que é onde a
vida acontece – onde os fatos ainda estão - onde eles ficam enquanto não
resolvo em que cômodo colocá-los!
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