Quão realista é a psicologia em “Divertida Mente”?
Por Carolina Halperin, Psicóloga na Wainer Psicologia Cognitiva
Diante das várias teorias que podem ser encontradas por trás da animação Divertida Mente, um aspecto salta aos olhos dos psicólogos: a mensagem sobre a importância da congruência emocional para a saúde mental.
A cultura ocidental valoriza certos traços de personalidade e comportamentos vistos como essenciais, tais como extroversão, assertividade, eficiência e otimismo; enquanto isso, a introversão e sensibilidade são muitas vezes vistas com maus olhos. Como resultado, expressões de felicidade e otimismo são extremamente valorizadas, ao passo que expressões de tristeza e descontentamento são vistas como um problema: gera desconforto se sentir triste e/ou ver as pessoas ao nosso redor tristes.
Entretanto, nem sempre a emoção adequada às situações da vida é a alegria. Perdas, traumas, mudanças e frustrações levam as pessoas a se sentir tristes. No filme, Riley se sentia animada e assustada ao iniciar na nova escola, ao mesmo tempo em que também sofria pela vida que deixara para trás.
Se Riley se sentisse triste pelas perdas e mudanças que estava vivendo, teria passado pela experiência sem maiores consequências. O problema – delicadamente ilustrado pelo filme – foi a decisão de Alegria de que Riley deveria continuar sendo a garota corajosa e feliz que acreditava que seus pais gostariam que ela fosse. A Tristeza precisava ser isolada de sua vida, ou estragaria tudo.
Não se permitir sentir o que é normal sentir em uma situação causa problemas para todos, e não só para Riley. Ao tentar sentir algo diferente do que realmente sentimos, ou ser algo que não somos, criamos uma incongruência entre o mundo interno e o externo. No filme, a Tristeza não aceitava simplesmente ficar no círculo desenhado pela Alegria: a Tristeza sabia que era absolutamente vital para a saúde mental de Riley a longo prazo.
Alegria e os outros não entenderam isso até o final do filme, quando Alegria finalmente percebeu que Riley necessitava da Tristeza para ser congruente: sentir seus sentimentos de verdade ao invés de fingir que estava tudo bem. Ao testemunhar o poder da Tristeza de transformar a dor de BingBong (apenas sentando ao seu lado e deixando-o falar e chorar) Alegria percebeu que a Tristeza é terapêutica por simplesmente permiti-lo ser como queria ser naquele momento, o que fez com que ele logo se sentisse melhor.
A partir desde momento, Alegria passa a insistir para que Tristeza assuma o controle da situação, o que leva Riley a finalmente ter um momento de choro e desabafo com seus pais. Momento este que repara a relação da família, que finalmente pôde mover em frente em sua nova vida.
Outro ponto que merece destaque é o fato de Riley tornar-se deprimida ao longo do filme. Ela pára de interagir com amigos, deixa de lado seus valores e crenças (Ilhas da Personalidade), perde a habilidade de rir e o interesse em seus hobbies. Isto não aconteceu porque ela não estava feliz, mas sim porque ela não se permitia ficar triste quando esta era a emoção congruente com seu momento de vida. Ela não necessitava de medicamentos anti-depressivos, tampouco necessitava ser feliz novamente. Ele necessitava autorizar-se a ficar triste, o que então a permitiria sentir todas as outras emoções.
Em terapia, talvez isso não aconteça tão rápido quanto num filme de Hollywood. O fato é que, ao aceitarmos todas as emoções como parte fundamental da vida, nos possibilitamos viver todas as experiências integralmente; o que leva ao crescimento interpessoal e ao amadurecimento.
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