A força do sol tentava se impor ao vento brando da manhã; esforçava-se para me tirar da cama, muito antes da hora necessária. Uma vez desperta, me foi impossível dormir mais um pouco, debaixo do grande calor. O sol fazia parecer, que o vento trazia mentiras presas, entre os dentes, tentando me convencer de que refrescaria o dia, no decorrer das horas.
Ao que pretendia dissimular, era o vento, uma figura decorativa e bem secundária, diante do jugo que conduzia o dia, sob o poderio do sol com seus braços fortes e vigorosos de gigante, como vetores, por onde descia um material incandecente, disparado democratiamente, sobre aquele pedaço da face da terra. O vento, parecia mais uma criancinha com membros pequenos e débeis, impotente em relação àquela tamanha força, que ousava enfrentar. Era um convite explícito, para que ele se colocasse no seu devido lugar e avaliasse sua real dimensão - de pequena brisa, pois esteve muito claro, desde logo, quem venceria aquela disputa.
Naquele dia, ele seria um coadjuvante esforçado, com sua devida importância, é claro - porém sem muita chance de modificar a determinação, das chispas que desceriam do céu, em forma de setas de fogo. Os cães se deitariam à sombra, os pássaros procurariam os galhos mais cheios de folhas. Vapores subiriam para a atmosfera já carregada, arrepios seriam sentidos pela pele suada, os músculos iriam ter muita dificuldade de se movimentarem e na verdade os corpos pesados e inchados, se arrastariam pela superfície, que quase se derretia sob os pés, de quem se atrevesse a caminhar sobre ela.
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