segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

1435

O OUTRO LADO





Eu pensei, que a vida mudasse através de um salto para cima - um impulso capaz de me arremeter a um local diferente e distante, do ponto de partida; descrevendo um semi arco no espaço; para onde eu seria projetada e plantada.  Para minha surpresa, percebi que não seria desse jeito.  

Foi então, que caminhando, eu me deparei com um desvio descendente - um atalho, mais que caminho, numa curva à direita - que para meu espanto passou por debaixo da estrada da vida.

Foi quase que automático, como se já estivesse meio programado, que eu seguisse por ele - eu fiz o movimento à direita e fui descendo.  Não era, em absoluto, uma passagem que cortava a linha do tempo visivelmente, estava mais para uma saída à francesa do que para um divisor de águas - e sem que me desse conta, já tinha tomado outro rumo.

À frente, havia uma passagem escura e subterrânea, lamacenta e com grandes poças, obviamente escorregadia, dando acesso ao outro lado.  De imediato, estanquei bem no meio dela.  Meu primeiro medo, foi o de me estatelar naquele chão imundo, coisa nojenta e degradante.  Do meio dessa passagem escura, também obscura, era possível ver o que havia do outro lado.  Uma continuidade da mesma estrada, porém um pouco mais rústica e desconhecida.. 

Não sei se por receio de pisar naquele chão duvidoso ou se por falta de coragem de me aventurar à nova paisagem, eu recuei, do ponto onde havia estancado.  Ecoei um grito sentido, pela minha impotência, quanto a me decidir seguir em frente ou não.

Aquela cena - eu parada no meio da passagem, no limite entre o chão seco e o lodo, mas já imersa na escuridão - foi coisa que não me saiu da cabeça, nem o som do meu grito, desapareceu da lembrança.  Eu tive que retornar aquele mesmo ponto.  Ter chegado até o meio dela e retornado sem atravessar, trouxe uma insatisfação inquietante e uma curiosidade aguçada, impossível de manter por mais tempo.

Acho que, uns dois dias depois, eu voltei àquelas mesmas coordenadas.  Nesse dia, o chão não estava tão lamacento, nem a passagem tão obscura.  Podia perceber alguns pontos, em que as poças e a lama, estavam separados por espaços, do tamanho dos meus passos.  Foi assim que dessa vez, muito cuidadosamente, eu atravessei, não caí, nem me sujei.

A estrada do outro lado era seca, sem dissolução de continuidade, em relação àquela - minha velha conhecida.  O caminho era, ligeiramente ascendente, com uma leve curva para a esquerda, como querendo me trazer de volta ao antigo nível.  Pude pereceber um local nada ameaçador, por sinal bem aprazível, com vegetação nativa e relevo pouco acidentado. A região revelou-se promissora, ainda intocada, selvagem tal qual a natureza é, mas acolhedora e estava lá, para ser desbravada por mim.




Nenhum comentário:

Postar um comentário