segunda-feira, 20 de dezembro de 2021


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AS INQUIETUDES E O MICROVERSO




Elas nascem inofensivas, trazem 'um não sei que' de desconforto, um mal estar.  Saem das páginas do tempo de lá de trás, saltam para frente, meio zonzas em direção ao tempo presente e quando se instalam, nos causam uma aflição desproporcional ao seu tamanho e à consciência que trazem consigo - nossas pós_ocupações.

São pequenos anzóis quase invisíveis, que nos fisgam os olhos, as entranhas ou qualquer parte nevrálgica do nosso corpo, provocando uma dorzinha de dente insistente e difusa, uma falta de ar imaginária, um incômodo perceptível.  São as pedras lançadas ao centro de um lago, aparentemente tranquilo, denunciando que nem tudo está tão calmo.  À razão, tudo está bem; porém para o emocional, é como se arrastássemos uma ponta preocupante com algo pesado, que nem sabemos o que é, exatamente - com coisas incógnitas e perturbadoras. Nesses casos a identificação a ser feita, é motivo de corajosa busca.  

Às vezes, elas vêm com nome, endereço, idade e um respectivo 'qr code' com todas as demais informações necessárias, para serem reconhecidas, porque conhecidas, elas já são.

Têm aquelas que dão um salto inverso, em direção oposta aquelas que vêm do passado.  Vêm do futuro, vêm de um tempo ainda não decorrido, de uma divagação mental nossa ou de um desejo fervoroso, que só em nossas ideias, acalentamos e guardamos - nossas pré_ocupações.  Como se não fossem, as ocupações diárias, suficientes para o próprio dia!

Decididamente, vivemos em muitos tempos, ou melhor, eu vivo (!) ... e eles estão a se sobreporem o tempo todo - o passado visitando o presente, que por sua vez, bisbilhota o futuro e confere o próprio passado; o futuro que quer interferir no presente ou no passado ... sei lá ... é muita coisa acontecendo ou não acontecendo, de fato.  E eu, que sou só um, me divido entre os muitos tempos, os muitos sentimentos, os muitos pensamentos e as muitas pequenas realidades ... todas minhas!  Não me é possível estar em todas ao mesmo tempo, com a mesma integridade.  Vou deixando pedaços meus, aqui e ali, e quando os reencontro, vou recolhendo um a um. 


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