quarta-feira, 17 de março de 2021

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QUANDO O IMPERFEITO É MAIS PERFEITO




Eu volto sempre, ao mesmo lugar, onde minha boca esteve próxima à tua; onde eu senti o calor de tuas mãos me enlaçando; a insistência dos teus olhos sobre os meus e o quanto invadiam os meus sentidos e pensamentos, o quanto eles prometiam!  Era tudo tão possível, nada podia estragar ou afastar, desdizer ou negar.  

Há estradas que me levam a esse lugar, repetidamente, a malgrado da minha procura, porque eu o encontro, sempre vazio, nas tentativas insanas de viagem.   Considero em todas as vezes, um atraso teu, fico ali à tua espera, até que nossos relógios se acertem e passem a medir juntos, os mesmos minutos, depois da tua chegada.  Mas tu não vens e eu retorno ao tempo atual, como quem leva um 'bolo' ou 'toco', por repetidas vezes.

Volto ao lugar, mas o tempo é outro; sem dúvida, nós pertencemos a esse lugar, mas pertencemos, acima de tudo, ao tempo desse lugar ... e na minha tentativa de voltar e reviver o que senti, esqueço-me da relação espaço/tempo.  Ao espaço, é possível voltar, mas no tempo, mesmo que eu quisesse, mesmo que, por algum encanto eu me tele transportasse para lá, não te encontraria.  

Dentro da minha cabeça, eu confundo: pertencemos do 'presente', com pertencemos do 'pretérito perfeito', que são exatamente idênticos.  Onde já se viu, dois tempos diferentes, mas iguais na forma de se auto explicarem.  Melhor será, que eu passe a conjugar o verbo 'pertencer' em tempo correto, desse jeito: 'nós pertencíamos' ... do 'pretérito imperfeito'.  Talvez assim as coisas ficassem um pouco menos dúbias e eu aos poucos, fosse me convencendo, de que é inútil voltar no espaço e esperar encontrar as mesmas cenas e emoções. Não vejo outra forma de implodir as estradas, que me levam até lá. 

17/03/21


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