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VENTOS, MAR E TERRA
Dia desses, de intensa calmaria, em que o silêncio era tanto e podia-se ouvir o barulho ensurdecedor do fundo da consciência ... do que queria sair e gritava ... eu desci aos porões do meu navio.
Suas velas eram apenas, panos dependurados, que nos mantinham estagnados num mar sereno e liso. Em terra, as pás dos moinhos, provavelmente, também estariam a essa hora, tão paradas e inúteis, quanto às minhas velas, pois não havia vento. O ar de tão quieto, causava-me certa sensação de náusea.
Uma vez, lá em baixo, abri suas câmaras, há muito, lacradas e esquecidas, entregues ao mofo, aos insetos e roedores. De posse de um molho de muitas chaves, de diferentes tamanhos e formatos, fui abrindo-as, com certo receio, passando-as nas fechaduras e cadeados enferrujados pela maresia. As portas envelhecidas, moviam-se rangedoras e pesadas, depois de décadas de clausura e escuridão.
Foram emergindo, formas estranhas, que ao contato com a luz, adquiriam matéria e identidade. Continham agora, rostos, vozes e membros, para pleitearem e ganharem a liberdade. Tinham permanecido loucas e cegas, por tanto tempo, por eu tê-las conservado presas, sendo punidas por crimes, que nem sequer sabiam, terem cometido.
Aos poucos foram recobrando suas cores e vida, readquirindo sanidade e alçando voo rumo aos céus.
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