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OS VAGALUMES MUSICAIS E A PRATA
Era noite, eu caminhava pelas ruas desertas. Pisava o chão, com passos monótonos, como se pisasse sobre as teclas de um piano, para delas extrair sons. Minhas pernas e pés eram dedos, compridos e pretos, cujas pontas batiam certeiras, nas teclas, no escuro. Ao longe, um cão latia e a monotonia era proposital.
Minhas pernas obedeciam às cifras luminosas, que saltavam como vagalumes, do papel preto, de que era feita a partitura, pois só dessa maneira, era possível que eu lesse as notas e acordes, na escuridão.
O trompete era a minha voz - a prata - que de início, começara suave e tímida, mas conforme ganhava confiança, subia em timbre e frequência, até adquirir certo furor e se tornar um tanto hostil. Era o sentimento, que ecoava pelo silêncio calmo da noite, rasgando o ar, com sua voz fria de metal.
01/03/21
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