'UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO' ___________
32 - O INEVITÁVEL E O OPCIONAL
Um dor
lancinante e cáustica, latente,
pontiaguda, perfurante, rígida e aguçada,
penetrante, dilacerante – provocada por arma forjada em têmpera de fogo.
Dentre todos os seres da criação,
os do reino hominal, não são os únicos que sofrem, porém são, os únicos que têm
consciência do próprio sofrimento.
Se “a dor é inevitável, o
sofrimento é opcional” ... desatrelar esse par, chegar ao estágio da dor não
ser mais acompanhada pelo sofrimento – é
um processo constante, demorado e com muitas frustrações pelo caminho.
A dor acontece no corpo e na
alma. O ‘não sofrimento’, se dá no
intelecto - o sentir pensado – o entendimento dos fatos = a nossa percepção dos
acontecimentos = como interpretamos o que nos ocorreu – ‘o que fazemos com o que
nos acontece’.
O corpo e a alma são receptivos às
sensações que nos causam emoções, a partir delas é que elaboramos os
sentimentos. Esse processo se dá de uma
forma, que não sabemos muito bem como acontece, poderíamos dizer ‘automática’.
Esse ‘sentir’ deve passar da fase ‘tátil’
(sentida), pra fase ‘racional’ (consentida). Devendo passar por um filtro, que
eu chamaria de ‘consentimento’.
Quando ‘consentimos’ sentir as
coisas boas, não temos problema algum.
Mas quando as desagradáveis nos atingem, a dor “fere fundo que nem
punhal”. Como se a ofensa tivesse
percorrido uma avenida larga e reta, da carne em direção direta ao coração.
Uma vez a dor, instalada no coração, temos que nos deslocar
até ela, pegá-la praticamente no colo e tratá-la. É isso que é difícil, algumas dores causadas
por certos males, ou pela nossa simples fragilidade, são difíceis de tratar – os ‘medicamentos’ (tudo o que se
diga ou faça pra curar ou amenizar) parecem não surtir efeito.
O nosso desafio começa nesse
ponto. Entra em cena a nossa
criatividade em manipularmos os recursos disponíveis, e procurar por aqueles
que ainda não temos – pra se ‘inovar’ se preciso for – e produzir um novo
unguento.
Inovar, não é inventar do nada, algo imaginário, uma panaceia ... é criar algo que faça sentido, que seja eficaz com relação à dor,
com base nos recursos, que temos em nós e naqueles que nos são oferecidos.
Podemos levar um longo período pra
obter essa transformação, talvez uma vida inteira. Algumas dores podem doer pra sempre, ou durarem enquanto durar a nossa consciência.
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“fere fundo que nem punhal” : alusão à “Kid cavaquinho” de João Bosco e
Dudu Nobre
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