O ego está sempre atento a qualquer tipo de diminuição que ele perceba. Seus mecanismos automáticos de reparo entram em ação para restaurar a forma mental relativa a "mim". Quando alguém nos culpa ou nos censura, ele tenta corrigir no ato essa sensação de diminuição do Eu se justificando, se defendendo ou acusando. Se a outra pessoa está certa ou errada, isso é algo irrelevante para o ego, que está muito mais interessado na preservação de si mesmo do que na verdade.
Uma técnica espiritual eficaz é permitir conscientemente a diminuição do ego quando ela acontecer e não tomar nenhuma iniciativa para restaurá-lo.
Recomendo a você que realize um teste de vez em quando. Por exemplo, quando alguém lhe dirigir críticas, censuras ou xingamentos, em vez de revidar no ato ou se defender, não faça nada. Deixe que sua auto-imagem permaneça diminuída e fique atento ao que isso desperta no seu interior. Por alguns segundos, pode parecer desagradável, como se seu corpo tivesse encolhido. Depois, talvez você experimente uma sensação de amplitude interior. Você não foi diminuído nem um pouco. Na verdade, se expandiu. É provável, então, que chegue a uma conclusão impressionante: quando parece que de alguma maneira você é diminuído, e não adota nenhuma reação - nem externa nem interna - compreende que nada realmente foi reduzido e que, tornando-se "menos", se transforma em mais. Quando deixa de se defender ou de tentar fortalecer a forma do seu eu, você se afasta da identificação com a forma, com a sua auto-imagem mental. Por admitir ser menos (na percepção do ego), na verdade você passa por uma expansão e cria espaço para o Ser entrar. O verdadeiro poder, aquilo que você é além da forma, pode então brilhar através da forma aparentemente enfraquecida. Esse foi o sentido das palavras de Jesus quando ele disse : "Negue a si mesmo" ou "Ofereça a outra face". Em vez de tentar ser uma montanha, ensina o Tao Te Ching, "seja o vale do universo".
Eckhart Tolle - "O Despertar de uma nova Consciência", pág. 187.
A Essência do Ego
Na maior parte dos casos, quando dizemos «eu», é o ego que está a falar, não nós. O ego é feito de pensamentos e emoções, de um conjunto de memórias com as quais nos identificamos como «eu e a minha história», de papéis habituais que desempenhamos sem nos apercebermos, de identificações coletivas, como a nacionalidade, a religião, a raça, a classe social ou a inclinação política. O ego contém igualmente identificações pessoais, não apenas com bens materiais, mas também com opiniões, com aparência exterior, com ressentimentos antigos ou com noções de nós próprios como melhores ou piores do que os outros, como um caso de sucesso ou um fracasso.
O conteúdo do ego varia de pessoa para pessoa, mas a estrutura que opera em todos os egos é a mesma. Por outras palavras, os egos só diferem à superfície. No fundo, são todos iguais. Por que razão são todos iguais? Porque todos vivem da identificação e da separação. Quando vivemos através da identidade criada pela nossa mente, a qual é constituída por pensamentos e emoções que dão corpo ao ego, a base da nossa identidade é precária, uma vez que, por natureza, os pensamentos e as emoções são efémeros, transitórios. Por conseguinte, o ego tem de lutar continuamente pela sua sobrevivência, procurando proteger-se e ampliar-se. Para sustentar o pensamento do «eu», necessita do pensamento oposto do «outro».
O «eu» conceptual não consegue sobreviver sem o «outro» conceptual. Na maior parte das vezes, os outros são vistos como nossos inimigos. Um dos componentes deste padrão egóico inconsciente é o hábito egóico compulsivo de criticar e de nos queixarmos dos outros. Jesus referiu-se a este hábito quando disse: «Porque vês o argueiro que está no olho do teu irmão e não reparas na trave que está no teu olho?» O outro componente é a violência física entre as pessoas e a guerra entre as nações. Na Bíblia, a pergunta de Jesus não obteve resposta, mas a resposta é, obviamente, a seguinte: porque quando critico ou condeno outra pessoa, isso faz-me sentir maior, superior.
Eckhart Tolle (Um Novo Mundo, pág. 54)
O silêncio da noite, os vagos
contornos dos móveis na escuridão do quarto, o ruído distante de um comboio -
tudo parecia tão estranho, tão hostil e tão completamente sem sentido que gerou
em mim um profundo ódio pelo mundo. A coisa mais repugnante de todas, no
entanto, era a minha própria existência. Que razão tinha eu para continuar a
viver com este fardo de infelicidade? Porquê continuar com esta luta constante?
Sentia que um profundo anseio pela aniquilação, pela não-existência, estava a tornar-se muito mais forte do que o
desejo instintivo de continuar a viver.
"Não posso continuar a viver comigo
mesmo." Era este o pensamento que se repetia na minha mente. Depois, de
repente, dei-me conta da peculiaridade de tal pensamento. "Serei um ou
dois? Se não posso continuar a viver comigo, é porque em mim deve haver dois: o
'eu' e o 'comigo mesmo' com o qual não posso viver." "Talvez",
pensei, "apenas um deles seja real."
Fiquei
tão desorientado com esta estranha descoberta que a minha mente parou. Eu
estava plenamente consciente, mas deixou de haver pensamentos.
Eckhart
Tolle (O Poder do Agora, pág. 23)
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