segunda-feira, 2 de maio de 2016

Porque é que o corpo mártir de Cristo, a sua face distorcida em agonia e o corpo jorrando sangue das inúmeras feridas que lhe foram infligidas, é uma imagem com tanto significado na consciência coletiva da Humanidade? Milhões de pessoas, em particular a na época medieval, não teriam estabelecido uma relação tão profunda com esta imagem se não houvesse algo dentro delas que estivesse em consonância com ela, se não tivessem reconhecido inconscientemente como uma representação exterior da sua própria realidade interior - o seu corpo de dor. Estas pessoas ainda não tinham consciência suficiente para o reconhecer diretamente dentro de si mesmas, mas foi nesse momento que começaram a adquiri-la. Cristo pode ser encarado como o arquétipo do ser humano, personificando tanto a dor como a capacidade de a transcender.
Eckhart Tolle (Um Novo Mundo, pág. 121)



Inúmeros atos de violência são cometidos por pessoas «normais» que se transformam temporariamente em pessoas maníacas. Em tribunais de todo o mundo ouvimos os advogados de defesa afirmar: «Este comportamento não é nada típico do meu cliente.» Por sua vez, os réus alegam: «Não sei o que me deu.» Que eu tenha conhecimento, até hoje não houve um único advogado de defesa - apesar de esse dia poder não estar longe - que dissesse a um juiz: «Este caso tem atenuantes. O corpo de dor do meu cliente estava ativo e ele não sabia o que estava a fazer. Na realidade, não foi ele que agiu, mas sim o seu corpo de dor.»

Significa isto que as pessoas não são responsáveis pelo que fazem quando são dominadas pelo corpo de dor? A minha resposta é: como é que podem ser? Como é que podemos ser responsáveis quando estamos inconscientes, quando não sabemos o que fazemos? Porém, num plano mais abrangente, os seres humanos estão destinados a evoluir para seres mais conscientes, e os que não evoluírem sofrerão as consequências da sua inconsciência. Deixarão de estar em sintonia com o ímpeto evolucionário do Universo.
E até isto é apenas relativamente verdade. Segundo uma perspetiva mais elevada, não é possível não estarmos em sintonia com a evolução do Universo, e inclusivamente a inconsciência humana e o sofrimento por ela gerado fazem parte dessa evolução. Quando deixamos de ser capazes de suportar o ciclo de sofrimento, começamos a despertar. Por conseguinte, o corpo de dor também tem o seu lugar necessário no plano mais abrangente.
Eckhart Tolle (Um Novo Mundo, pág. 136)

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