1225
CATIVOS E LIBERTOS
24/09/20
Eu trago lá, os meus segredos, tão secretos, até para mim mesma! Só me aventuro a andar, pelo território onde os guardo, quando estou muito corajosa - e isso não costuma acontecer com frequência.
Sigo-os de longe, meio que, me escondendo atrás de uma pilastra, ou de uma porta entreaberta, ou qualquer barreira que me sirva como proteção. Não posso me deixar ser vista, também temo assustar-me com seus rostos, ou quem sabe, eu é que os assuste, com a minha cara de espanto, aos vê-los. Assim, de soslaio, até que suporto ver suas silhuetas imprecisas.
Trago-os cativos, para todos os efeitos, não tenho a coragem de olhá-los nos olhos e reconhecer, que anseiam por uma liberdade, que só eu posso dar-lhes - e disso, eles se ressentem! Na verdade, nessa estória, não sei muito bem, quem é cativo e quem é liberto, sou tão aprisionada quanto eles. Existe aí uma interdependência sistemática e doentia. Por medo, acabo mantendo-os na semiescuridão, e eu em contrapartida, não consigo visualizar minha imagem refletida no espelho, com a clareza que gostaria. Eles, os segredos, funcionam como borrões e imperfeições, que distorcem a conformação da minha figura.
O certo, é que não estou preparada para encarar, o que até então julgo melhor, que permaneça oculto. Acho que, devemos nos revelar sim, mas a revelação deve ser ministrada cuidadosamente, de forma diluída e lenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário