quinta-feira, 24 de setembro de 2020

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CATIVOS E LIBERTOS

24/09/20




Eu trago lá, os meus segredos, tão secretos, até para mim mesma!  Só me aventuro a andar, pelo território onde os guardo, quando estou muito corajosa - e isso não costuma acontecer com frequência.  

Sigo-os de longe, meio que, me escondendo atrás de uma pilastra, ou de uma porta entreaberta, ou qualquer barreira que me sirva como proteção.  Não posso me deixar ser vista, também temo assustar-me com seus rostos, ou quem sabe, eu é que os assuste, com a minha cara de espanto, aos vê-los. Assim, de soslaio, até que suporto ver suas silhuetas imprecisas. 

Trago-os cativos, para todos os efeitos, não tenho a coragem de olhá-los nos olhos e reconhecer, que anseiam por uma liberdade, que só eu posso dar-lhes - e disso, eles se ressentem!  Na verdade, nessa estória, não sei muito bem, quem é cativo e quem é liberto, sou tão aprisionada quanto eles.  Existe aí uma interdependência sistemática e doentia.  Por medo, acabo mantendo-os na semiescuridão, e eu em contrapartida, não consigo visualizar minha imagem refletida no espelho, com a clareza que gostaria. Eles, os segredos, funcionam como borrões e imperfeições, que distorcem a conformação da minha figura.

O certo, é que não estou preparada para encarar, o que até então julgo melhor, que permaneça oculto.  Acho que, devemos nos revelar sim, mas a revelação deve ser ministrada cuidadosamente, de forma diluída e lenta.


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