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UM QUÊ
29/06/20
Vê-se, logo à entrada da casa, folhas secas rodopiando no chão.
Dentro, o pássaro vive aprisionado no quadro dependurado; não canta, nem voa; só contempla com olhar desolado, o vácuo silencioso, onde os corações se oprimem.
As paredes guardam as palavras ouvidas e não as esquecem. As portas se lembram de quantas vezes foram batidas, na raiva. No tapete, a sujeira; na mesa, uma mancha engordurada. Cortinas fechadas, cama refeita e fria.
Memórias, estão lá, eternizadas algumas, em fotografias, que não mostram a verdadeira cena. Nem sempre foi o que pareceu ser. Porque fotos, são estáticas. Não há certeza de que os momentos foram vividos, exatamente, como nos lembramos deles. Um sorriso pode esconder um quê de tristeza, em um dos seus cantos.
Pois então, 'foi assim' - e é preciso que assim se olhe - e se permita ver que: 'é o que foi'! Olhar com respeito, os detalhes e particularidades do retrato do passado, sem se sentir tentado a ele retornar; para limpar a poeira ou a mesa, desdizer as palavras, retirar a raiva, nem as folhas secas.
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