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NHEC-NHEC
19/09/17
Eu pergunto, ela não responde. Ouço um nhec-nhec. Do jeito que está, fica. Pra frente e pra trás em sua cadeira de balanço, às escuras, olhando pra eternidade.
Faz crescer à minha frente, dois paredões rochosos, um canyon, pra onde grito a minha voz de indagações. Mas as minhas palavras reverberam nas paredes e retornam a mim, como eco, na mesma entonação, nem mais afirmativas, nem mais negativas, não menos indagativas do que como foram.
Nesse método terapêutico, elas me devolvem as mesmas perguntas, apenas um pouco mais arrastadas.
Tenho ímpetos de xingá-la de surda. Porque nunca me responde, ao contrário, arranja sempre um jeito de devolver o que perguntei. Bem que gostaria que respondesse, ninguém saberia disso, o fato ficaria entre nós, pois os paredões são à prova de som o que nos torna únicas testemunhas.
Impassível, pelo tempo que durar, ela faz o nhec-nhec, com a pressa de quem não tem aonde ir. Fica ali, balançando-se, marcando o tempo com a sua cadeira, no escuro, sem mostrar seu rosto.
Por vezes eu bem que gostaria de obter uma resposta fácil, pra um bom resultado, mas se acaso respondesse em alguma das vezes em que pergunto, é bem provável que eu não aceitasse sua opinião. Como poderia confiar em alguém que não mostra a sua verdadeira face?
Mas eu sei que ela não é surda, não responde, não porque não quer ... porque as respostas? ela não as tem.
Não conheço sua aparência, pode ser jovem, velha - criança é que não é. Quando me devolve as perguntas que lhe faço, fazendo com que eu procure as respostas dentro de mim, eu vejo nela, uma sabedoria incompatível como a de uma criança. Só sei que quando bate a luz do dia, ela não está mais lá. Não ouço o seu nhec-nhec.
Dessa forma, fazendo como ela faz, não terei a quem culpar pelo caminho errôneo que escolher, senão a mim mesmo ... mas o mérito de um acerto, eu o compartilho com os dois paredões.
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