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A GUARDIÃ
08/09/17
Na noite dos tempos estão guardados os seixos graúdos das praias – que machucam meus pés – e que as ondas do mar ainda não conseguiram quebrar. Cada um tem sua cor e formato, com várias origens, vistas a olho nu. Fustigados serão pelo furor do mar que bate nas rochas das encostas. Por força e insistência, se tornarão a areia fina e misturada que conhecemos.
A transparência indica a pureza da água, que preenche as cavidades entre os continentes e que abriga apenas seres pertinentes a esse meio, sem corpos estranhos e lixo.
Para nós tudo se perde nessa noite, onde tudo realmente está ‘bem achado’ e fazendo sentido na gênese de toda transformação, onde se encontram catalogadas todas as espécies criadas da fauna e flora - as ainda livres de extinção, as extintas antes mesmo de terem um nome.
Lá estão intactas todas as reservas de pedras preciosas incrustadas nas rochas, todos os minerais dormindo no solo. Bem como todas as indagações dos filósofos e cientistas e de toda a lógica, estão escondidas e ainda inacessíveis a nós. A grande noite, não nos dando certezas, apenas suposições e conjecturas – onde o único ‘livro’ disponível para pesquisa e consulta - é o próprio planeta, inscrito em sinais geológicos que interpretamos nas rochas, nos sedimentos dos rios, no fundo dos oceanos, nas camadas do solo, no fóssil que virou petróleo, na vegetação que virou pedra.
Para nós é apenas uma noite, longa e escura, uma guardiã de todos os segredos bem guardados, como um mito ou lenda. Verdadeiramente, é uma sucessão de noites e dias, de marés, de cataclismos e tempestades, de brisas e perfumes. Um livro de muitas páginas, ilustrado e cheio de explicações, ainda não impresso.
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