segunda-feira, 30 de setembro de 2019

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CAMINHOS, FRUTOS E FARDOS
PERNAS, BRAÇOS E DORSO
30/09/19



Certas manhãs são frias e bem mais escuras.
Algumas mãos são macias, outras, muito mais duras.
Há frutos adocicados, caminhos sombrios,
com fardos pesados, de lágrimas formando rios
longos, delgados e salgados, atos desesperados.

Sem ser inexato, contesto o substrato e analiso o contrato,
até que as manhãs esquentem, até que se iluminem.

Preciso de mãos macias, de colher frutos adocicados.
Pés e atos duros fazem melhor um novo caminho.
Dorso largo e forte suportam melhor os fardos.
Por rios salgados, se nada sozinho.




arte | june leeloo
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DESENCANTADOS
30/09/19



Eu não acredito num abandono definitivo.  Foi só uma folga, que ela se deu (de mim), para que fosse encantar outros olhos.  

A poesia me deixou, por assim dizer: sentado, plantado, embasbacado, olhando a paisagem (que por sinal - eu a 'copiei', como minha aparência atual).  Sem ela, eu fiquei (ou melhor, ela me deixou, literalmente), com 'cara de paisagem'.

Não vejo motivos de fazer versos, mas antes que eu recolha e guarde papel e caneta; vou escrever algumas frases secas e objetivas, como quem apenas descreve.

Se acaso eu vir uma pedra, terei visto 'uma pedra mesmo'.  Se uma folha cair, (e se)  eu me interessar em descrever tal evento (!) - será descrito como um fato corriqueiro e normal, na ordem natural das coisas.

Não darei à pedra, um peso maior do que ela verdadeiramente possui; nem à folha, uma importância além da merecida.  Verei como a maioria vê, apenas com olhos desencantados.




arte | agnes cecile
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UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO
UM OCEANO INVISÍVEL
30/09/18




Estamos todos ligados, uns aos outros, por fios invisíveis, dentro de um oceano de intenções expressas ou não, feito de palavras, atos ou apenas pensamentos.  Imersos nas mesmas águas secas, nos movimentamos ou apenas estagnamos.

A ligação não se dá através da camada mais superficial do corpo - a pele.  Como obedece aos sentimentos mais remotos, acaba por nos interligar, ou seja, entrelaça nossas ideias e ideais, não sendo necessário para isso o contato físico.

Um soco, que eu deseje desferir sobre uma pessoa, mas não o faço, por razões obvias, chega sempre ao seu destinatário, com muita precisão.  Na simples intenção, o impacto não é sobre seu físico, mas sobre suas estruturas energéticas.  Isso é ciência, não uma crença em bons e maus fluidos.

A boa notícia é que, o mesmo acontece quando eu, em minhas intenções, desejo o bem a alguém, mentalizando por exemplo, acolhimento e aceitação, ao envolve-la em meus braços.  Funciona da mesma forma, com todos os sentimentos, o mecanismo é o mesmo, os mesmos comandos são acionados num simples 'desejar'.

O pensamento é o veículo do sentimento.  A palavra, as ações são o que vemos sendo carregados, quando verbalizamos ou externamos nossas intenções.  Dizemos que as palavras e ações saem carregadas de sentimento.

Quando retenho, só para mim, uma palavra, uma atitude, embora não possa ver, existe uma transferência de sentimento genuíno, que passo adiante de uma forma mais sutil, mas não menos eficaz.

Diante de um insulto ou desrespeito a minha pessoa, eu posso escolher me calar, negando o meu direito de resposta, entretanto isso não impede, que eu elabore mentalmente a minha réplica ao ultraje.  Não raro, passo à tréplica ... e por aí afora, numa ruminação tóxica, que afeta seguramente esse oceano vibracional, cujos efeitos danosos, eu sou o primeiro a sentir.







P.S. As intenções são diferentes de pessoa para pessoa, mas têm o mesmo peso, na composição do oceano em que vivemos.  Todos estamos expostos à mesma influenciação vibracional que acompanha o nosso planeta, assim como podemos sentir os efeitos dos maus tratos dados a ele.



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JARDIM SECRETO
30/09/16



Trago  tua  imagem  submersa  nos  olhos
e  o  teu beijo  selado  na  boca !
A  tua  voz  ecoa  no  silêncio
que  o  meu  coração  cultua !

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

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ECO DO OCO
29/09/18




Carroça e cachola vazias, fazem muito barulho.  Casa vazia e canyons, nos devolvem um eco.  O som não tem onde bater, onde se aquietar e se dispersar, então ele viaja até nossos ouvidos.

Encher a carroça, é a solução para parar de ranger. Encha de coisas que prestem, não mais que o necessário.  


A cachola igualmente, encha-a do que se presta à vida, à sua vida, ela vai parar de bater e se ocupar com escolhas que importem.


Casa vazia é casa sem vida, as vozes, os gritos, os choros, ficam evidentes.  Encha-a do necessário também, ao seu conforto e gosto.  Não se esqueça de trazer para dentro dela bons sentimentos, senão continuará vazia.


Os canyons, não há como enchê-los de nada, outrora tiveram seus espaços preenchidos de água, hoje estão cheios de história.  Seus ecos continuarão a voltar, nos contando das eras passadas.  




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ACASO UM DIA
29/09/18




Se acaso um dia
eu perder a poesia
perderei a alegria ...
não aquela de que se ria
mas aquela que se cria.
Calará a melodia.
Conservarei a minha visão
mas enxergarei com imprecisão!

Ela pode não ter rima
pode nem ser legítima
nem  sequer haver clima
e a língua ser uma lima
porém a dor, ela sublima!

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ASTOR E ANIZ
29/09/18



Por onde andam Astor e Aniz?
de visita à torre de Paris?
dançando tango argentino?
Será ...
que Astor inda é menino...
e Aniz, já é mulher?
Um romance caberá?
Darei os nomes que quiser
porque amar é um risco
a paixão, um petisco
a vida, simples asterisco!

Podem ser nome fantasia
de um grande magazine.
Estou fugindo da antifasia
de popeline a gabardine.

Acredito e escolho
ser um homem e uma mulher
de verdade, com paixão, sem refolho
... garfo e colher.
Em meio a travesseiros vermelhos
rodeados de espelhos.

Podem nem ter nascido
ou até terem morrido...
Que não tenham se esquecido
nem um, nem os dois
do amor que vem depois!



antifasia: contradição; incoerência; discordância; discrepância; paradoxo.
refolho: sentido figurado - fingimento; dissimulação





arte | asili

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COMPULSÓRIO E FACULTATIVO
29/09/17



Dispensei a margarina
mas e a estricnina
que descendo goela abaixo
eu quase me desencaixo?

Quereria agora desse cálice não beber
talvez, em outra hora sorver!

Quanto mais forte fico
mais me dói o pico!

Fácil é fazer a poda

difícil, é seguir a moda
 pra vida? difícil? não é rima.
A vida é  _oda
é coisa que não se arrima
o buraco não é em cima!

Aquele lance? ...
de um barranco pra descansar
e outro pra sombra me dar?
Sem chance ...
Os dois desabam sobre mim.
A bebida da cor do nanquim
é o veneno compulsório
que me leva ao oratório
depois ao purgatório!

Sobre o mal facultativo
digo, já é autoexplicativo.

O mal involuntário
me xinga de otário
e me é depurativo!

Dispensei a margarina
mas a estricnina???



arrima: organiza, ordena em pilha



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VER
29/09/16





A vida se insinua pelo vitral

onde juntei e montei, o bem e o mal

pedaços de fatos feitos de sal

retalhos de verdade visceral!


Fragmentos de puro amarelado

em cada um ... algo de meu!

São poucos os de gosto adocicado

e muitos - os ruins - que a língua lambeu!


É por aí que eu vejo o mundo

através do saudosismo profundo

numa visão caleidoscópica

e realidade nada utópica!


Que nem poderia ser diferente ...

aos olhos, eu o trago bem rente!



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A PEDRA E A CORAGEM
28/09/18


Posso não ser 100 % responsável, pela pedra que caiu sobre mim, mas o sou, na sua totalidade, pela minha permanência sob ela.

O mínimo que posso fazer é, ter coragem em dar significado ao fato, o mais próximo possível do real. 


Contemplo um cenário de desolação, estragos a minha volta, coisas fora de seus lugares originários.  Muito pouco sobrou, ou quase nada de intacto, apenas eu.  Talvez não tão intacto assim por dentro, quanto estou por fora.


Estranho o fato de não me sentir tão tocado pela desolação, esse sentimento se dissipou e agora consigo olhar para tudo, através de olhos serenos e neutros.


Atravessei um vendaval, com seus ventos arrasadores e águas torrenciais, tremi aos seus raios e trovões, que abalaram a terra e sacudiram todas as coisas.


Me recuso a acreditar, que caminhei para dentro dele (o vendaval) de caso pensado.  Vendavais são feitos pela natureza, são grandes demais para mim, para que eu me responsabilize pela existência  deles, ou por seus estragos ... eu apenas posso deliberar sobre estar dentro, permanecer neles ou não.  Eu permitirei que eles me atravessem, se for pego sem sobreaviso outras vezes.


A minha intenção foi sempre, fugir das encrencas, dos cataclismos da vida, evitar as guerras insanas.  


Mas como se diz: "de boas intenções o inferno está cheio" ... talvez tenha passado pelo inferno, que ele tenha me sugado, ou que sem perceber, por ignorar as previsões climáticas, caminhei em direção a ele ... eu não sei!  


Eu o conheci, o inferno que o vendaval causou e seus rastros, a destruição atrás de si.  E inexplicavelmente, não quero aproveitar nada de seus escombros.  Foi preciso que eu o conhecesse, como acontece a todos os seres viventes e pensantes.


Eu me sinto como alguém, que antes pegou seus óculos novos e os embalou em plástico bolha, mas que agora depois de muito usados e insuficientes, não me importo que eles fiquem sobre a areia.


Só quero uma coisa, não pretendo andar pela vida, temendo as chuvas e os ventos, elas lavam e dão vida e eles renovam os ares. 



arte | greg spalenka
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DUAS CADEIRAS
  28/09/15




No meu interrogatório íntimo e particular, sou perguntador e  respondedor,  ocupo as duas cadeiras/lugares:  do "eu" e do "você".  

Abro minha "caixa de pandora" e me surpreende  a quantidade de inquirições que surgem, em diálogos ensurdecedores,  a ponto de ser necessário,  arremessar sobre elas,  um  "cala boca" de tecido bem  grosso,  para que não me enlouqueçam!

Ficam calmas enfim, mas não antes de prometer-lhes atenção, uma a uma...  O inconsciente é servo fiel, pois ele as classifica por níveis de importância e urgência... Aos poucos vão emergindo do "subsolo".  

Bem lá no fundo, sei que há resposta para cada uma delas, esquecida em alguma gaveta,  perdida em algum trecho de livro ou bolso, implícita nalguma foto,  alguma certeza em algum lugar de mim..... 

Mas eu preciso  desse diálogo entre:  " eu"  e  "você",  para que eu possa me  ouvir, porque  quando o "você"  fala, o  "eu"  escuta ...

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EM TEMPO, SEMPRE
27/09/18



Me sinto em casa em teu regaço
e eu venturosa, te agradeço
por tua ternura demonstrada
por estarmos na mesma estrada!

Nas alegrias, ao meu lado
cumpres um acordo selado.
Usas de palavras não tão belas
quando é preciso, às vezes
e sempre fazes, içar-me as velas!
E nos dolorosos revezes
silenciosa, irmã, amiga e prima
em tempo, enxugas uma lágrima!


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IDEIAS E CRENÇAS
27/09/17



Toda ideia tem seu tempo
até que uma outra mais fresca
floresça e a ofusque
a coloque em segundo plano
ou até mesmo em desuso!

Toda crença tem sua serventia
enquanto funcione.

Depois
passado seu prazo de validade
é importante
reformá-la ou aposentá-la.

Senão, corro o risco
de vestir uma roupa que aperta
ou que me enfeia!

Seguindo um traçado
que mais me atrapalha
do que ajuda!