sexta-feira, 9 de dezembro de 2016


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RE_EDIÇÃO




* Retorno * - 22/08/15


Renascemos do pó, que restituiremos um dia à terra, quando nosso espírito retornar à casa.
"Somos poeira das estrelas", dos sóis e cometas, que não existem mais. Uma explicação romântica do nosso surgimento. Ao menos sabemos da gênese de uma parte da nossa aparição!
Somos corpo e espírito, mais espírito que corpo. Mais que a metade e ninguém fala sobre isso... Qual deles é capaz de manter sua identidade depois da separação? A carne perece e o espírito permanece. A carne provém da carne, mas de onde vem o espírito?  Ele sopra aonde quer...
Aninhados nas entranhas de uma espécie de "terra", recebemos todos os elementos de que necessitamos para forjar nosso molde, que deverá conter, dentro e ao redor, a vida que nos anima. A "existência" é muito mais antiga, bem anterior à nossa posse da consciência. É serva fiel a serviço da vida. "Somos feitos de silêncio e sons". Sentimos, bem antes de aprender a pensar, mas ainda somos um emaranhado de frases desconexas, de reações químicas, processos estranhos, que não fazem o menor sentido, que só passará a significar algo quando viermos à luz. E toda uma vida pode não ser suficiente para avaliarmos o seu propósito!
Nesse laboratório "in carne", as matérias primas são manipuladas. Experimentos de Deus, que a cada vez se aperfeiçoam mais. A mãe natureza nos provê de tudo quanto precisamos para nos tornarmos "viventes" nesse mundo. Ossos, músculos, nervos, órgãos - se formam através de fórmulas secretas, guardadas num cofre que não podemos abrir, e mesmo que pudéssemos, o que faríamos com elas?
A medida que nos desenvolvemos, esse laboratório fica pequeno e desnecessário. Não é por vontade própria que saímos dele e nos damos à luz ... É por puro desconforto, somos praticamente expulsos!
A primeira vez que nossos pulmões fazem o que lhes é próprio fazerem, sentimos o ar rasgando os tecidos. Dizem que isso dói, e então choramos. Outros choram conosco, mesmo que por outros motivos!
Apresentam-se a nós o frio, a claridade, a fome... Forçados a usar nossos sentidos e órgãos, vivemos a partir de agora por nossa conta e risco. Ainda assim, tudo nos é suprido pela mãe natureza: aconchego, penumbra, alimento. Conhecemos as cólicas, a sensação de desamparo, fora do laboratório de paredes grudadas a nós, temos medo de cair. Acolhidos com o que há de melhor, embora nos sintamos perdidos nesse grande vazio que nos recebe, alguém nos envolve e simula as paredes que nos circundavam. Ouvimos então os sons sem filtro algum.
Nossas células recebem todos os recursos para se desenvolverem. Aprendemos a usar nossas mãos, a caminhar, a interagir, a usar nosso coração para fins diversos daquele de bombear a vida.
Crescemos, e em algum momento de nosso amadurecimento físico, descobrimos em nós a capacidade de gerar outra vida. Só então, é que avaliamos o que é estar do outro lado do vidro!
Passamos da maturidade à lenta decrepitude física, contando sempre com a generosidade incondicional da natureza. O intercâmbio, sempre muito desigual, nós mais recebedores do que doadores.
Quando 'convidados' a restituir à terra tudo quanto recebemos, não porque queremos, mas porque nosso espírito 'quer voar'; somos forçados a devolver o que recebemos. Justamente, quando já não nos serve mais. Devolvemos, em uma doação "post mortem", o que nos restou, do uso que demos, do que recebemos. Depois de toda "pilhagem" em vida, nosso corpo vai descansar. Perdeu a utilidade.
A natureza, que é mãe, quando um de seus filhos morre, faz nascer uma flor, sobre o corpo inerte de volta às suas entranhas, em sinal de seu desprendimento. Uma homenagem ao seu filho que jaz!



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