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ENTRE OS MEUS VIVOS
Tenho certeza de que a poesia ainda mora em mim, que se
demora, em algum cômodo, adormecida ou ensandecida. Mas como incômodo, sinto essa repentina sensação
de ausência ... ao que reajo, com uma desesperada teoria, em que defendo a 'anticoncepção' de sua falta. Está mais para desconhecimento do paradeiro, do que para sua efetiva inexistência.
Porque sinto que ela não desabitou a
minha casa, que resiste bravamente. Sei que embora me falte palavras para dizê-la, as vísceras se
retorcem, os nervos se contorcem - os seus aliados declarados - como a gritarem a mim, por uma única sentença,
curta que seja, mas que traduza esperança. Permanece aderida ao meu ser, um tanto letárgica, mas eu a conto entre os meus vivos.
Devo então, fazê-la despertar ou sair de um ostracismo involuntário, talvez voluntário. Devo busca-la, na cela em que se encontra; retirar-lhe
a mordaça, que lhe nega voz; desfazer os nós que prendem os movimentos, dizer que goza de juízo perfeito e trazê-la pelas mãos, à luz de um dia ensolarado.
arte | anne soline
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