segunda-feira, 28 de novembro de 2022

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CASA E BOAS CERCAS

Com medo do frio, usei o cobertor pesado e rude.  Por temer as águas revoltas, morri de sede.  Na fome, aceitei migalhas, alimentei-me de coisas indigestas, enquanto a alma permanecia faminta e o corpo desnutrido.

Em busca por segurança, com grilhões e correntes forjei a servidão.  Sem coragem para dar um passo, fiquei onde já não estava mais.  Na falta de limites, vi meu jardim ser pisoteado ...

Mas os ventos gelados vieram e me arrancaram de onde estava plantado; submergi fundo, sem tempo de armazenar ar; fui jogado contra os limites do outro; passei por todo tipo de privação.

Ao me ver em terra, desperto, descobri a liberdade e os ares puros.  Agora, moro em casa própria e constatei que posso fincar raízes onde quiser.  Teço meu próprio agasalho; aprendi a fazer uma concha com as mãos e beber da água doce do meu terreno; do jardim saem os aromas e gostos.  Aprecio o horizonte e minhas cercas enfeitadas, bem definidas, transpostas, apenas por mim.


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