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CASA E BOAS CERCAS
Com medo do frio, usei o cobertor pesado e rude. Por temer as águas revoltas, morri de sede. Na fome, aceitei migalhas, alimentei-me de coisas indigestas, enquanto a alma permanecia faminta e o corpo desnutrido.
Em busca por segurança, com grilhões e correntes forjei a servidão. Sem coragem para dar um passo, fiquei onde já não estava mais. Na falta de limites, vi meu jardim ser pisoteado ...
Mas os ventos gelados vieram e me arrancaram de onde
estava plantado; submergi fundo, sem tempo de armazenar ar; fui jogado contra
os limites do outro; passei por todo tipo de privação.
Ao me ver em terra, desperto, descobri a liberdade e os ares puros. Agora, moro em casa própria e constatei que posso fincar raízes onde quiser. Teço meu próprio agasalho; aprendi a fazer uma concha com as mãos e beber da água doce do meu terreno; do jardim saem os aromas e gostos. Aprecio o horizonte e minhas cercas enfeitadas, bem definidas, transpostas, apenas por mim.
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