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UM SÓ
À beira do caminho, eu tantas vezes em terra, me
deixei levar pela emoção de ver coisas lindas e também por coisas
tristes. Uma vez em mar e sobre ele, mais precisamente,
apesar do medo de sua imensidão, foi impossível não juntar algumas gotas
salgadas, vertidas por mim, às colossais águas que meus olhos viram. Brotaram de uma
profunda gratidão, nascida do mais íntimo do meu ser, talvez de uma saudade enrustida e remota, por estarmos tão distantes, por tanto tempo. Foi como, se uma súbita simbiose
tivesse ocorrido entre o mar e eu - e o seu sal chamou o meu, foi assim que nos entendemos. Num misto de temor e adoração, como se em mim aparecessem nadadeiras e brânquias, por uns instantes apenas, eu pude
me ver debaixo da superfície da água, e sem me afogar, éramos um só.
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