quarta-feira, 23 de novembro de 2022

1550 




UM SÓ

À beira do caminho, eu tantas vezes em terra, me deixei levar pela emoção de ver coisas lindas e também por coisas tristes.  Uma vez em mar e sobre ele, mais precisamente, apesar do medo de sua imensidão, foi impossível não juntar algumas gotas salgadas, vertidas por mim, às colossais águas que meus olhos viram.  Brotaram de uma profunda gratidão, nascida do mais íntimo do meu ser, talvez de uma saudade enrustida e remota, por estarmos tão distantes, por tanto tempo. Foi como, se uma súbita simbiose tivesse ocorrido entre o mar e eu - e o seu sal chamou o meu, foi assim que nos entendemos.  Num misto de temor e adoração, como se em mim aparecessem nadadeiras e brânquias, por uns instantes apenas, eu pude me ver debaixo da superfície da água, e sem me afogar, éramos um só. 



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